ÀS FAVAs

Sempre tive ao longo da vida, uma autocensura muito acentuada. Nunca consegui conviver com a hipótese de parecer ridículo ou inconveniente, seja do meu próprio ponto de vista, ou de terceiros. Acredito que isso tenha sido o meu “calcanhar de Aquiles” , tenho vários outros mas talvez tenha sido o mais importante. Tive uma coleção imensa de medos e receios. Fui me desvencilhando de alguns ao longo do tempo, outros permaneceram até hoje. Ah! Como era difícil chamar uma moça para dançar. Será que minha roupa está condizente com a festa? Será que ela tem namorado? E se ela disser NÃO, vou ficar com uma cara de idiota. Não, não tenho coragem, melhor tomar mais uma caipirinha. Quando a coragem chegava eu já estava eufórico ou bêbado e aí Pimba!!! , Ia lá e falava coisas imbecis e as vezes inconvenientes e o Não vinha com mais veemência (Problema superado quando enfim num lance de sorte me casei). - Tinha pavor de falar em público. Vou gaguejar, vou perder o raciocínio, vão me achar despreparado etc. etc. isso embora eu fosse muitas vezes o mais preparado entre todos. Fazer perguntas na aula era um terror. De antemão já me sentia sendo julgado por toda a classe. Que pergunta idiota, esse cara é um burro!!! (superado com o tempo) – Até para comprar tinha dificuldades, se o vendedor me mostrasse muitas opções eu já ficava sem jeito de sair sem comprar nenhuma. Para vender alguma coisa também não era diferente. Ficava com vergonha de dar o preço. Vão achar muito caro e não vão querer, e aí eu sempre vendia por menos do que pretendia (superado com o tempo). Enfim, intercalando fases melhores e piores vivi asses meus 65 anos. Sempre preocupado com a opinião dos outros. Hoje olhando para trás não creio que fosse só timidez. Era burrice mesmo. Poderia continuar narrando muitas outras situações, mas todas com o mesmo perfil.

Como antes tarde do que nunca. Resolvi que pelo resto da minha vida vou mudar radicalmente de atitude. Não vou me importar mais com a opinião de ninguém a menos que venha para me aprimorar. Críticas pura e simples, sobretudo as que nada constroem ficam agora no passado.

Já me surpreendo fazendo coisas que me pareciam inadmissíveis. Que não “ combinavam” com a minha personalidade. Vou para a piscina do prédio na segunda feira, levando um jornal e uma cerveja sem me preocupar se os vizinhos vão me considerar um preguiçoso. Ouço as músicas que quero sem me preocupar se vão achar brega e assim por diante.

As favas a opinião alheia. Estou adorando essa fase de liberdade.

Al Primo
Enviado por Al Primo em 20/11/2017
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