Anjo

Aquietei as asas e observei o mundo. Observei todas as cores refletidas, os sons emitidos, olhos se fechando para o descanso, enquanto outros se abriam para mais um dia, para mais uma vida. Observei o planeta, como um todo, como se observa uma peça de arte antes de compra-la.

Busquei os sentimentos em meio à neblina estendida sobre a face desse plano, que encontrei somente em partes rasas, muitas vezes coberta de uma lama espessa, esverdeada. Onde foi que tudo se perdeu? – Me perguntei.

Uma linha do tempo, 4,6 bilhões de anos, criação, formação, desenvolvimento. Espécies, descobertas, inteligência. Percebe o quanto parece robótico, programado? Talvez essa seja a confusão enraizada, a inversão dos valores instituída.

Desse ângulo, vejo as pessoas trazendo sorrisos, lágrimas, abraços, cansaço, fardos. Todas emanando pouca luz. Vibrando fraco aquilo que nasceu para vibrar o mundo. Conjugando errado os verbos existentes e entendendo errado o significado da existência. Enxergo uma tentativa de sobrevivência, fingindo que a realidade não faz sombra em frente ao sol.

Talvez você pense que não exista beleza. Talvez você observe e sinta instantaneamente uma pressão robusta no fundo do peito que chamam de desespero. Talvez você não perceba, que falta mesmo, percepção.

Com a aparência que tanto veneram, pouco me importo. Há muito mais do que simples corpos. Almas, vestidas, são pouco vistas, pouco lembradas. Como alicerce, que pouco se vê, mas mantém a estrutura. Os campos vibracionais gritam por atenção, pedem cautela, pedem silêncio, pedem calmaria. E a humanidade, grita.

As almas carregam um propósito em busca de um equilíbrio universal. Trazem consigo um contexto cautelosamente desenhado, cuidadosamente planejado. Quando se encontram, elas vibram nas frequências destinadas individualmente. É energia, física aplicada aos olhos dos que conseguem compreender que tudo isso vai muito além daquele antigo delta S, delta T. É mais certo que teorema de Pitágoras, o quadrado da soma dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa. Frase feita dessa hipotenusa que ninguém sabe quem é.

Olhe com calma, não é tão simples entender.

Imagine aquele abraço que quando você fecha os olhos, você coloca a paz entre os dedos. O som cessa e os sentidos aguçam. O peso sobre os ombros parece leve, suave como pluma. O chão parece distante e o céu parece bem perto. Os segundos são contatos em horas e tempo, nessa hora, nem importa. Repousa a cabeça sobre o peito e sente a pulsação rítmica entre dois corações. São duas almas, vibrando as mesmas emoções. É como música. Pode ser lindo o som de um instrumento tocado com habilidade, mas quando dois encontram um mesmo ritmo, traz-se plenitude, harmonia. A verdade é que uma orquestra não se faz ao som de um único violino. É preciso mais, muito mais.

Essas metáforas todas, coisa de dissertação, rascunham tudo aquilo que ficou esquecido, guardado na gaveta das coisas que não usamos mais, aquilo que outrora já denominaram amor. Ouso dizer que o amor acaba sim, segundo teorias publicadas, discutidas. Mas não é só amor, porque amor é só uma palavra, quatro letras que jogamos ao vento sem nenhum cuidado, descrição. Confundimos mesmo brisa suave com solstício de verão. Amor é pouco, pré-conceito de felicidade que nos obrigamos a acreditar. Romantização de cenas que claramente não são o ápice do que o filme queria mostrar. E nessa frase, uso a palavra, não mais bonita, porém com muito mais sentido: ápice. Pitágoras pode ter descrito a hipotenusa (que juro ainda não saber quem é), mas o cálculo matemático que descreve o á(mor)pice, ser algum será capaz de concluir.

Sabe aquele abraço que te deu saudade, chegou a abrir um vazio? Almas não morrem, não se distanciam. Mudam de forma, mas jamais mudam a frequência. Sinta. No mais, entenda, a vida pode ser um sopro que não precisa apagar as chamas.

Gabrielle Benatti
Enviado por Gabrielle Benatti em 19/11/2017
Reeditado em 19/11/2017
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