A aprovada


Desta vez, chegou com uma hora de antecedência. Sua mãe a levou. O carro era emprestado, pertencia ao tio. Desceu tranquilamente, olhou em volta, ainda poucas pessoas. No topo da rampa, os portões ainda não estavam fechados. Na sua memória, sempre viva, os repórteres e as perguntas. Mas hoje eles não estariam lá, não para perguntar nada a ela. Nos bolsos, os documentos necessários, canetas, lápis e borracha.

Passaram-se os dias de ânsia, de espera, chegou o momento, o instante que poderá alterar o rumo de sua vida, o resultado do vestibular. Uma hora antes da publicação dos aprovados, ela estava lá, confiante, acompanhada de sua mãe. Foram de ônibus, o tio não pôde emprestar o carro neste dia. Muitos outros concorrentes apareceram. Alguns conversando alto, empolgados, parecendo ter certeza do resultado; outros mais silenciosos, reflexivos, contando com a sorte. Descem de uma escada dois grandes quadros para serem afixados em um lugar reservado. Pronto, bastava ler na lista o seu nome.

Todos se amontoaram na frente dos quadros, olhando atentamente as listas. Aos poucos, surgiram mais pessoas que se apressaram em direção ao resultado. Ansiosa, mas temerosa, tentava se aproximar da lista. Sua mãe prontamente se dispôs a ver se o nome da filha estava na folha de papel. Apenas um papel, sim, um papel com vários nomes; um papel que mudaria sua rotina; deixaria a casa cedo, iria à faculdade, leria muitos livros, participaria de seminários, de congressos, conheceria pessoas novas, usaria uma beca após alguns anos e, finalmente, teria uma profissão. Foi difícil para a mãe chegar, olhou, olhou, olhou novamente. E à medida que seus olhos passavam por vários nomes, iam se enchendo de lágrimas. A filha acompanhava o rosto da mãe emocionada, já lacrimejando. Depois de algum tempo, a mãe volta em direção à filha, já com os olhos repletos de lágrimas, e diz: “não vi seu nome na lista”.

Recordou-se do dia que chegou atrasada ao vestibular. Da vergonha, da sua derrota. Uma derrota que não era dela, não tivera culpa, foram fatores externos que a fizeram perder. Olhando para o seu pé, outrora machucado, lembrou-se de tudo.

Mas agora era diferente. Ela não chegou atrasada a esta seleção; pontualmente estava lá, fez a prova, conferiu os gabaritos, saíra-se bem. Algo estava errado. Seu pé começou a doer, uma dor psicológica. Essa derrota era culpa dela, só dela. Ninguém poderia consolá-la agora, ela não estava atrasada. A mãe, sem saber o que fazer, começa a abraçar a filha, mas ela quer ir conferir, quer ver com seus olhos lacrimejantes essa perda. A mãe aponta a lista para qual deve olhar. A filha, quase manca, em direção ao local, ouvindo os gritos dos aprovados, pulando, chorando de alegria. Olhou a lista e não estava escrito o seu nome.

Caminham juntas, mãe e filha para o ponto de ônibus. O telefone celular toca, uma amiga eufórica grita do outro lado da linha: “parabéns!”. Parabéns por não ter passado?! Fica confusa, sem entender. Havia algum engano, ela não estava na lista. A amiga corrigiu: “não, você passou, passou...”. Com toda a força do seu corpo correu para a lista novamente. A amiga estava lá, havia chegado naquele instante e não se encontraram. Com os olhos ainda cheios de lágrimas voltou a olhar a lista e não viu o seu nome. A amiga estaria rindo de sua desgraça? Não, a amiga disse: “sua boba, você está olhando o curso certo, mas olha aqui, você tentou para o noturno e não matutino”.

As mãos pousaram em seu rosto, as lágrimas de tristeza se converteram em alegria. Olhara a lista errada. Sua amiga a abraça: “seremos colegas!” A mãe chega, um pouco envergonhada, mas já gritando de emoção. Seu nome estava lá, bem no topo, com uma boa pontuação.

Caminhou para uma parte gramada da faculdade. Não sentia mais nenhuma dor. De pé, a filha olha para o seu pé, outrora ferido, e depois para o céu e diz a si mesma: “aprovada!”.

In: Ler-se(r), 2016, p. 57. Adquira o livro: Clique aqui!