Chez Romulus et Míriam

Ser hóspede do casal Romulus Augustus e Míriam é a mais sólida certeza de que você vai querer reincidir. E não é pela lindeza do ambiente que, mesmo antes das chuvas chegarem, é de estarrecer, situado ali às margens da barragem do Cajuru. O quem mais conta, no entanto, é a fidalguia dos anfitriões que faz você sentir-se até parte da casa.

A famosa adega desse filho primogênito do saudoso Zilu, literalmente, nos zilude: passa por todo o espectro cromático das mais apaixonantes e encarnadas uvas até chegar ao vinho verde. Nada obstante, os cervejófilos não se sintam desamparados.

E se o reservatório líquido é desse naipe, melhor suspender os rigores da dieta por algum tempo. Compensa, pela fruição dos mais diversos e distintos sabores, do lauto desjejum matinal aos tira-gostos supimpas que se estendem madrugada afora.

Desta vez, com presença de Rogério e Vera, Pedro e Prisca, mais os anfitriões somamos oito residentes. Visitas de Remo - naturalmente, o irmão de Romulus desde a fundação de Roma, e sua Silvana, além de Lorena - a filha do casal, que faz lembrar Cameron Diaz em seus melhores dias - com Marcos e o empreendedor incansável Bruno, adicionaram-nos o desfrute da saudável e animada companhia.

Com 95% das intervenções verbais, Vera confirmou amplamente suas virtudes de eloquência. Carlos Lacerda nos seus melhores dias não passaria de sparring para essa adorável e notória Notária, que em justa causa faz o papel da Salve Rainha naquela passagem: ...eia pois, Advogada nossa, os vossos olhos misericordiosos a nós volvei...

Nas brevíssimas alocuções em que nosotros todos nos sentimos ser Enéias, ou seja, aquele famoso detertor de 15 segundos de audição, nos embananamos todos, e devolvemos a palavra à Vera. E doutra forma não "havera" de ser...

Mas não nos queixamos: garantida a fala, nem foi preciso cogitar de tirar ou botar criança na sala. Num rápido intervalo, Rômulus nos apresentou uma filmagem diacrônica que mostra momentos da família, que cobrem bem um bom meio século pregresso dos Campos, dos Guimarães e dos muitos associados, amigos, que corresponde à revivência da história. Fantástico, sem interrupções. Nem mesmo da Dra Vera...

O estilo da casa que nos abrigou, a sua decoração, as suas dependências de alojamento e lazer seriam objeto para uma tese epicurista, ou mais. Passar um par de dias ali sem experimentar a sauna, é pecado capital, com penitência de joelhos sobre grãos de milho. E do pipoca, que é pontudinho.

E os aparelhos de rádio...? Dos antigos, de válvulas e em caixas de madeira e lona, dos variegados tamanhos, passariam da quarentena. Se Ali-Babá com sua tropa tomasse de assalto a casa dos Ferreiras, cada um dos asseclas sairia feliz com o seu exemplar. E todos em funcionamento, perfariam uma orquestra das mil e uma noites.

E Romulus acaba de sinalizar que as acerolas estão a amadurecer...quem há de resistir?

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 18/11/2017
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