O BATOM E O DEPOIS

Assaltada no portão de casa às 14 h, rua com trânsito engarrafado, lojas abertas, gente passando. Vestida para uma reunião informal,usando batom vermelho. Qual o motivo da descrição do batom? Já explico:

Aguardava o motorista do aplicativo que havia se perdido. Quase sempre eu me lembro de não usar celular na rua, mas na frente de casa pensei estar um pouco segura, além do mais, precisava saber o que havia acontecido com o motorista, pois pensei: se a corrida foi cancelada eles enviam mensagem. Claro, o ladrão aproveitou os segundos da minha distração lendo a mensagem do motorista... Primeiro tentou roubar minha bolsa num puxão violento, o celular na outra mão foi ao chão. Alvo mais fácil para ele. Porém, quando o vi com meu celular, que é a minha ferramenta de trabalho, grudei nas costas do safado, acho que arranquei boa parte dos cabelos dele!

Primeiro segurei pela regata branca, que rasgou. Batia sem ter a consciência do quanto de força aplicava. Acho que naquele momento bati em todos os homens que me machucaram durante esse meio século de vida.

O único ser humano que tentou me ajudar (após eu ter recuperado o celular, enquanto o ladrão gritava: Para! Para de me bater, já larguei!), foi um motorista de táxi (ironia, e eu esperando o “bendito” do aplicativo), "moça!"... (Moça? Ótima colocação, diga-se de passagem, ao se referir a uma cinquentona de vestido rasgado). Obrigada, consegui recuperar meus pertences. O filho da mãe não deu muita sorte! Respondi.

Hoje acordei bem, só o pulso, braços e os dedos da mão esquerda doendo muito por causa dos tabefes e creio, socos que dei nele.

Mas sabem o que não me sai da cabeça? O comentário do gentil motorista de táxi: "Moça! Nossa! O que foi isto? Você gritou socorro, mas pelo visto já resolveu. Incrível! Vestido rasgado, cabelo só um pouco desarrumado, mas o batom intocável!”.

Então, refletindo, por telefone sobre o ocorrido com a minha querida amiga psicóloga e escritora Marilu Duarte, de Pelotas, no RS, ela me diz: "Viste o que somos? Somos mulheres, irreconhecíveis e tantas em nós, capazes de enfrentar qualquer desafio e manter o batom intocável? Parabéns, amiga, fostes ótima, concluiu".

Porém, o Ministério da Saúde adverte: Não tente repetir em casa se estiver sem um batom vermelho.