Momentânea (2011)

E a noite se deita em seus ombros, acompanhando a serenidade de teus olhos. Me afaga tuas doces palavras, cobertas de longos suspiros intensos, tão suaves que a noite no leito de sua pele adormece feito criança cansada da brincadeira ao sol.

Ao decorrer de suas indagações sobre o que sentia e o que sentir, o coral de grilos a acompanha num arranjo sem compasso, tão alucinante quanto sua dança ao som de Frank Zappa. E de testemunho eterno, a mãe lua, em sua fase crescente, nos dando a honra de seu sorriso amarelado de café e nos aceitando, como se de presente nos desse o mundo como lembrança, daí em diante, a grande roda viva se fazia minúscula, ou eu me engrandecia.

E ela, tão linda as sombras da noite, se resguardava num ápice de timidez, e em silêncio continuou me olhando com seus grandes olhos negros e vivos, tão brilhantes que a lua temia a tal força do brilho, e por minha parte não foi diferente, guardei minhas palavras pois nenhum ditongo conseguiria descrever o que se passava em minha cabeça. Foi simples, sem segredo, apenas um abraço querendo protegê-la do frio e do orvalho, não ousei desfazer aquilo.

A grama já não tinha mais seu verde vivo e natural, a lua já não sorria mais, o sol ofuscava nossos olhos, enquanto o silêncio, parecendo combinado dos grilos dava espaço ao barulho dos automóveis passando freneticamente na estrada a fora. Eu, no lamento juvenil não tive escolha, rasurei tudo, em alguns instantes o que foi construído durante anos. E a lágrima da menina moça já não escorria de euforia, se demorou no chão, sentada olhando a minha ida ao nada.

André Gatti
Enviado por André Gatti em 16/11/2017
Código do texto: T6173703
Classificação de conteúdo: seguro