Colarinho Branco

Está crônica foi publicada no extinto Diário da tarde, em 4 de Junho de 1999.

Em 1996 enviei uma carta à redação do jornal Estado de Minas. Dizia eu na missiva como os ladrões se apresentavam diante da televisão: os pés de chinelos devidamente algemados, cobrindo o rosto ou inclinando-o para baixo.

Perguntava, na ocasião sobre os motivos que os levavam a esconder o rosto: vergonha de ter roubado tão pouco? Ou vergonha do ato em si?

Quanto aos ladrões do Colarinho Branco, era ao contrario: nada de algemas. No máximo entrando e saindo de alguma delegacia, exibindo carrões, cabeça erguida, fazendo pose em entrevistas. Perguntava na carta o porquê daquelas atitudes: vangloriavam do tamanho do afano? Ou por poder contratar os melhores advogados e saber que os tais inquéritos dariam em nada?

Passados três anos releio a carta e constato que os ladrões continuam sempre onde estiveram: os pés de chinelo algemados a caminho da cadeia, escondendo o rosto. Os de Colarinho Branco fazendo pose, com direito a permanecer em silêncio quando inqueridos. Sempre estampando um ar de deboche para nós, cidadãos, que fazemos das tripas coração, para manter as contas em dia.

Pior ainda: os “neoladrões” do Colarinho Branco ainda se acham no direito de dar porradas em jornalistas, que tentam fazer o seu trabalho.

Cada vez mais atrevidos e modernos, eles levam tantos bilhões para os tais paraísos fiscais,que chegamos a ter saudade dos corruptos em períodos anteriores.

Para complicar a situação, temos um presidente que, quando não está mudo, enrola, enrola e não diz coisa com coisa. Temos vários exemplos de que FHC é enrolão: coloca assessores em altas instituições, o cara apronta e ele diz que não tem nada com isso. Bandidos de outros países, como o ex ditador Alfredo Stroessener e o ex presidente Raul Cubas- paraguaios- que aqui vivem na mordomia Daqui uns dias o Pinochet desembarcará por aqui. A Otan bombardeia, mata civis, erra alvo e FHC não diz nada. A violência e o desemprego crescendo e ele não tem nada com isso. Então eu pergunto: este governo é mudo ou é refém?

Em novembro de 2017, o Brasil chegou ao fundo do posso, estamos em uma república de ladrões.

Lair estanislau Alves.