Ações Opostas

É, meus amigos, chegou a hora de abrir aquele vinho encorpado, para ver se ele dá conta de amortecer a nossa conversa, se ele dá conta de aliviar o peso chato dessa realidade estranha que a gente vive e às vezes nem se dá conta, ou resolveu entregar os pontos à esta fria senhora, que golpeia os outros com luvas de ferro.

Sabe, a gente vive o tempo das ações opostas, em que para cada desejo, há uma ação negativa que anula a possibilidade de torná-lo algo real e palpável. Por quê isso? Ou melhor... PRA QUÊ? A gente vive de falar que quer ter alguém especial na vida, mas quando conhece alguém interessante, entra em pânico, faz tudo o que não deveria fazer: ignora,se torna frio, finge que não leu aquela frase da pessoa "te dando mole" no WhatsApp (e ignora mais uma vez)... e o pior, continua procurando outras pessoas e em alguns casos, chega até a se encontrar com essas "outras pessoas", enquanto deixa aquela especial "na geladeira", porque "quando a pessoa desiste de todos os contatinhos por uma única pessoa, ela se ferra no final". Que besteira, né? Se a gente não se abrir, nunca vai saber. O coração se refaz, por mais que ele esteja cansado de fazê-lo. E a gente aprende, sempre, porque cada pessoa que entra na vida da gente, entra por uma razão, com um "algo" à nos ensinar. E por falar em coração se refazendo, a gente pode perder o amor da vida por não dar a cara à tapa. Por pura covardia. Sim, covardia, porque isso que as pessoas têm feito com as outras não passa de covardia, motivada pelo medo, que em um momento treme e teme por estar e ficar só, e em outro, treme e teme pela possibilidade de nova mágoa. E aí a gente se acostuma a viver de ilusão em ilusão, sempre com o coração cansado e, talvez, até com espinhos. A gente precisa é parar de ser idiota, deixar que esse alguém especial se aproxime de nossa alma e acabe por matar os nossos espinhos com doses de amor.

A gente vive de falar dos nossos sonhos, como se eles fossem algo inalcançável, algo muito distante e, mais do que isso, impossível de ser realizado. Mas a gente se esquece de que o tal “impossível”, é apenas um lugar onde ninguém esteve... AINDA! A gente se acomoda com a vida na média, a gente se acomodou em ser medíocre, porque aquele curso é muito difícil, aquele desafio é muito grande, porque eu acho que não sou inteligente o suficiente para isso e forte o bastante para aquilo. Me deixa aqui, aqui tá bom. “Deixa como está, para ver como é que fica”, e os anos passam, ficando tudo sempre na mesma. No marasmo. No morno. No “podia ter feito mais”, mas não fiz. E agora tem alguém vivendo o meu sonho, porque essa pessoa fez tudo o que eu deveria ter feito, mas ao invés disso, dei razão à preguiça, dei voz ao medo de não dar certo e ao receio de ser difícil demais. TKO*!

A gente vive de querer fazer alguma coisa diferente, mas quando pode escolher, fica no “de sempre”, porque vai que o diferente é ruim, né, apesar de estar todo mundo dizendo que o diferente é sensacional!

A gente vive querendo ter relacionamentos diferentes, mas nunca dá o primeiro passo. Continua sendo aquele amigo “meia boca”, que dá conselho errado, que passa a mão na cabeça quando o outro não está certo, que não é capaz de ser feliz pela felicidade do outro... a gente continua sendo aquele tipo de amigo interesseiro, que só está por perto enquanto pode lucrar em algo ou exibir o brilhantismo do outro como troféu. A gente continua sendo merecedor do título de pior filho do mundo, a gente continua subindo no salto de drag e empinando o nariz dentro de casa, ao invés de vestir as sandálias da humildade para ouvir estas pessoas que têm sim, o que nos ensinar. A gente continua sendo o tipo de neto desprezível, que faz os avós de gato e sapato, que nunca senta ao lado e escuta, que nunca segura a mão, nunca abraça como se fosse a última vez... porque, bem... pode ser mesmo a última vez. E a gente segue dizendo que nossos pais e avós não passam de pessoas quadradas, assim como nossos tios, e não arriscamos mudar o ângulo de visão para projetar ação alguma, e sendo assim, esta ação não trará resultado algum. A gente nunca vai saber se daria certo. Tudo por causa da ação oposta.

O bem que eu quero, eu não faço. TKO!

A gente vive de querer respeito. A gente grita com os outros para que eles nos respeitem, mas não respeita ninguém; Nós saímos por aí agindo como a pessoa mais desprezível e nojenta que alguém pode conhecer, e ainda temos a audácia de colocar legenda falando sobre respeito no Instagram. O fato é que respeito não se adquire no GRITO! Respeito se adquire com atitudes, e não com discursos utópicos. A não ser que o discurso seja real, destes que são condizentes com as atitudes que se tem. Aí é bem diferente. Mas a gente continua fazendo o contrário, porque afinal de contas, assim é mais gostoso, mais fácil e todo mundo está fazendo.

T-K-O!

O bem que eu quero, eu não faço. As coisas boas que eu quero ouvir, eu não digo. A atenção que eu quero, eu não dou. O amor que eu quero, eu recuso ao outro. A mudança que eu quero, eu deixo para o outro. O respeito que eu quero, eu não dou. O amigo que eu quero ter, eu não sou. O sonho que eu quero realizar, eu sonhei mas tive preguiça de realizar. A pessoa que eu quero amar, percebeu que eu não tenho caráter e nem sei controlar os meus impulsos, enquanto a ponho na geladeira e estou dando 50 matches por dia no Tinder. O diferente que eu quero, eu deixei de lado pela mesmice.

Pois alguém me traga uma bolsa de gelo. A realidade acabou de me golpear. E quem me trouxer esse gelo todo, traga uma bolsa a mais... A senhora realidade vai te golpear com luvas de ferro também. Nós não lutamos o suficiente. Na verdade, a gente nem tem ido nem à luta e nem no treino.

T K O!

** TKO significa "Technical Knock Out" (Nocaute Técnico). Um nocaute técnico é declarado quando, em uma luta de boxe, o juiz (referee) decide que não é mais possível para que um dos lutadores (fighters) continue lutando em segurança. No boxe, isto pode acontecer mesmo se o lutador não conseguir se levantar nos 10 segundos limite (contagem protetora) dados pelo juiz. Também é considerado TKO se um lutador for derrubado três vezes no mesmo assalto (round). Registros britânicos se referem ao TKO, como RSF - Referee Stopped Fight ('luta parada pelo juiz').

Débora Cervelatti Oliveira
Enviado por Débora Cervelatti Oliveira em 20/10/2017
Código do texto: T6148068
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