VALE A PENA SER HONESTO?

Um rapaz encontra um cheque em branco assinado e entrega ao seu dono. O jovem é ovacionado, todos ficam espantados com sua atitude.

Diz o repórter, que fez a matéria, que o dono do cheque admirou-se com o gesto nada comum do jovem. Sua mãe emocionada não conteve as lágrimas na certeza de ter educado o moço da forma que um moço verdadeiramente deva ser educado. A população extasiou-se em indescritível emoção.

Veja a que ponto chegamos, e você, não se iluda, também pensa desta forma. O ato do menino você considera como um ato de grande retidão. Sabe por quê? Porque vivemos numa época onde ser honesto é algo démodé, meio cafona e antiquado. É a estranheza de uma conduta que deveria ser rotineira, que faz parte já do inconsciente coletivo que faísca em nossas cabeças empurrando-nos para o delito.

No ombro direito um anjinho apagado, embaçado e com pouca influência nos diz , sussurrando, que não. Enquanto no outro um diabinho cheio de moral e exemplos bem sucedidos mostra-nos as vantagens e conveniências gritando:

- Achado não é roubado.

- Se não tem dono, o dono é você.

- Todo mundo rouba.

Não dá para competir. . .

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Temos razão em enxergar a honestidade como uma qualidade excepcional e incomum. Não somos de todo ruins como alguns hão pensado, somos frutos do meio em que vivemos afinal ser honesto dificulta muito a vida.

A paz é contra a lei, mas a lei também é contra a paz, já dizia Gabriel, O Pensador na sua música em que, imagina você, fazia apologia ao uso de maconha nos anos noventa, época em que a droga era mais ilegal que hoje.

O exemplo dos lucros com a desonestidade são muitos e tentadores.

O que faz uma nação obedecer às leis não é a quantidade delas, mas a certeza da punição quando alguma for desrespeitada.

Não existe indivíduo mais educado que outro, existe isto sim, lugares onde as leis funcionam melhores.

Num país onde presidiário exerce cargo eletivo, e condenado pode candidatar-se às eleições, ser honesto notoriamente não compensa.

Impregnados que somos de uma tradição tacanha onde se acredita que se se faz não importa o quanto se roube , implícito no adágio “Rouba, mas faz”, é natural que quando alguém devolve um cheque em branco ao seu legítimo dono seja encarado e admirado como um novo herói nacional.

Você devolveria?