Mudar-se em saudade

A saudade que sinto fala daquilo que sou. O que me faz falta diz muito de minhas prioridades. Se nossa vida é um todo, aquelas lembranças são, por certo, partes importantes nessa construção. Somente o que marca – e marca prazerosamente - é capaz de mudar-se em saudade.

Recordo o colo de meu pai, que tão cedo foi tirado de mim. O manto da claridade da lua cheia que se estendia sobre as plantações. A alegria das brincadeiras com os irmãos que, não sem brigas, nos lembravam a todo o momento que precisávamos estar juntos. Minha mãe sabia orientar, punir e amar com verdadeira maestria.

Isso tudo – mas não só isso – não me deixa esquecer quem sou.

Às vezes dói, é verdade. Pessoas às quais devoto tanto amor, sei que já não posso encontrar. Momentos que marcaram minha história e que só existem em minha memória.

Ao menos uma coisa me consola: a saudade me leva a admitir que sou capaz de amar e ser amado. A dor da separação – fato muito possível de se dar – não diminui em nada a beleza da vida. Antes, me ensina a viver intensamente cada dia.