ESCREVER BEM, PENSAR MAL

Escrever bem é com certeza uma virtude. Muita gente escreve bem, na área do Direito, então, a gente lê pareceres ou sentenças de belíssima feitura. No campo mercadológico também, quem não conhece o célebre discurso do Nizan Guanaes como paraninfo, por exemplo? Não acompanho muito, mas deve ser o mesmo em várias outras especialidades, inclusive médicas, com ênfase na psiquiatria. Nem falo de jornalistas e de literatos, críticos de arte, professores, estudiosos em geral. Bem, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Um texto homofóbico, discriminatório racial ou que esconda ou destile preconceito, facciosismo extremado ou puro exibicionismo não alcança qualquer qualificação positiva, podendo ser, eventualmente, ilícito ou abominável. O sujeito pode ter espaço consagrado em jornais impressos e impressionar incautos, mas não passará de morto de fome praticando alpinismo econômico e social por mais comida em seu prato. Portanto, escrever bem pressupõe pensar equilibradamente, dominar o assunto e fornecer contribuição efetiva. Se for criativo, melhor. Mas originalidade é para poucos, não se colhe no “bas fond” das ideias. Detestável também é crítica que se alimenta do caos, do abuso interpretativo e da destruição que procura semear. São poucos, inclusive, os que agem assim, não é muito fácil detectá-los, mas, em todo caso, é preciso atenção: nem todo texto que encanta é realmente bom. O pior é ter de enfrentar textos capengas recheados de ideias sofríveis. Bem comum. O que mais se lê são requentados chavões, sofismas grosseiros e cultura débil praticamente desnudada sob andrajos literários. Mas há espaço para todo mundo, inclusive para filósofos de boteco. Se eu acho ruim? Que nada, é expressão legítima, democrática, saudável! O Paulo Coelho, com todo respeito, não escreve bem, mas é um dos autores que mais vende livros neste planeta, vive em estado de abundância na Suíça e sabe se conectar literariamente, um fenômeno moderno, azar dos clássicos e diligentes escritores atuais. Ninguém é completo. Lembro de Jô Soares e seus programas: pessoa muito culta, poliglota, experiente, que dominava como poucos assuntos artísticos em geral, mas que sempre achei muito fraco em política, economia, direito e futebol, quase infantil em seus comentários. Mas, enfim, que ninguém se acanhe. Como dizia aos alunos de 18 anos na Faculdade de Direito, quando lhes propunha uma questão: respondam sem medo, pois, por mais que bobagem pareça, vou encontrar doutrina ou jurisprudência que dê respaldo.