Era Dezembro

Quando fui obrigada a dizer adeus a Ele, era verão.

A estação podia não ser de fato importante, mas naquela ocasião, ela era.

A temperatura não era amena, o vento não nos cortava de modo gélido. Era dezembro, chuvoso e abafado, onde éramos destinados a nos afogar naquela água salgada que grudava em nossos corpos. O que menos desejávamos, naqueles dias insalubres, era um abraço.

Não era inverno. Quando dois corpos grudados um num outro se tornam aconchegantes, seguros e harmônicos.

Eu o abracei naquele calor infernal, agarrando Ele junto a mim por um tempo que julguei ser infinito, mas não o suficiente para tudo o que eu sentia.

Ele estava desnorteado com tamanho aperto que eu punha naquele gesto, mais ainda porque era verão. Ele pingava, enquanto que, por puro cavalheirismo, não se libertava dos meus braços. Mas era o que Ele queria; voltar a sentir o ar quente por suas narinas, bem como meu corpo longe do dele. Perpetuou-se sufocado em meu abraço, incomodado pela sua duração.

Do outro lado, meus olhos desleais marejavam a todo vapor, não se envergonhado ao deixarem suas marcas na farda branca que Ele usava.

O gesto se prolongou ainda mais, agora, comigo tentando conter as lágrimas antes de me desgrudar Dele. Se me visse daquele jeito, com os olhos vermelhos aos prantos, Ele entenderia que eu o amava.

Não poderia fazê-lo entender isso e depois simplesmente partir para distante.

Mas a demora naquele abraço, em pleno verão, estava deixando não apenas Ele desconfortável, mas também a mim.

Desgrudei-me Dele, encarando seu olhar com firmeza, sem temor, deixando que Ele descobrisse que aqueles olhos vermelhos, que há pouco se escondiam no abraço, sentiam por deixá-lo. Aquele encarar, mais do que o gesto apertado, berrava tudo. Se antes Ele não compreendia, agora dominava. Eu deixei que Ele soubesse.

Permiti, pois, parte de mim matinha a esperança de que se por um instante Ele soubesse, poderia me deter. Não pediria para que eu ficasse, mas tomaria meus lábios para si, de maneira tão firme como aquele abraço.

Mas não foi isso que Ele fez.

Parti sem nenhum gesto a mais Dele, com a dor ainda mais dolorosa do que antes do adeus. Agora, não somente a distância iria me castigar. Mas a memória da face Dele reconhecendo que eu o amava, para depois deixar que eu partisse para longe. Sem o beijo, sem o afago.

A decisão de deixa-lo saber não era nada. O pior seria eu, ao fechar os olhos e lembrar que sabia, com clareza, que Ele conhecia a verdade em meus olhos, mas de nada valia para si.

Eu tentava justificar; foi o verão. Se tivesse sido no inverno, meu abraço não teria o assustado, muito menos meu olhar inchado. Ele teria dado o beijo, deixando que o calor o invadisse. Todos precisavam aquecer-se no frio, eu sabia.

Ah, se nossa despedida houvesse de ter sido em baixo de grossos casacos! Meu amor teria sido o nosso aconchego e teríamos tido o nosso último e único beijo.

Eu nunca houvera de apreciar os verões.