Sussurros Que Te Cantei

Lembra-te de nós dois, nos pés da cama, de mãos dadas, sabendo que não deveríamos estar fazendo aquilo. Andávamos pelas ruas com as mesmas mãos entrelaçadas, formando o um só que sempre fomos.

Aparentemente, não havia nada que fizesse parar nossos pés enquanto seguiamos. Não seríamos detidos enquanto estivéssemos juntos pelos dedos. Foi nesse momento que você me fitou. Tão de repente que a mim só restou uma hesitação no passo invencível, encarando-te da mesma maneira.

Você era de silêncios, assim como eu. No entanto, você achava os hiatos sem palavras bastante tormentosos; ficava sem jeito e se sentindo bobo por não ter uma única frase para continuar. Você almevaja que o outro a tua frente preenchesse aqueles momentos, com qualquer bobagem que fosse.

Eu, não. Apreciava os silêncios em sua totalidade, não os achava desconfortantes nem procurava inundá-lo de futilidades. Era nessas tréguas das palavras tão enganosas que eu morava. Nunca gostei dos dizeres, eles ludibriavam.

O olhar era diferente. Os olhos cantarolavam-me as mais diversas coisas. Esse encarar verdadeiro só vinha com a ida das palavras para longe, nos momentos em que parávamos e apenas apreciávamos o que um era para o outro. Ali, o que era verdadeiro, berrava.

Mas eu odiava te deixar sem jeito. E se os hiatos o deixavam dessa forma, tentaria evitá-los.

Sempre gostava de murmurar para ti, aquilo era o meio, algo entre a fala que te deixava confortável e o silêncio que era o meu lar.

Então, sussurrei, naqueles segundos em que o hiato ameaçava aparecer para te deixar sem jeito;

- Duvida de que tudo isso ao nosso redor existe. Duvida até mesmo das cores dos céus. Mas não dúvida, nunca, do meu amor.

Você abriu seu sorriso mais verdadeiro. Tão sincero que eu encontrava de forma fácil a dúvida por entre ele.

Comecei a falar, não em sussurros, mas na fala que te era cômoda. Eu dizia e dizia, sabendo que por vezes acabava por cair na tediosidade.

Mas não havia o que fazer. Preferia ser tola para ti a te deixar incômodo.

Eu acreditava que as palavras nada tinham a dizer, muito menos o que demonstrar. Mas ali, falando e falando, apenas para te deixar confortável, estava demonstrando o meu amor por ti.

Da fala e do dizer, do silêncio e dos murmúrios que eu gostava, gritava uma única coisa: Eu te amo e nunca duvide disso!