Nem às paredes confesso

O homem era desses muito sinceros, sinceros em demasia, meio esquisito. do tipo romântico complexo, e a mulher dessas que não sossegam enquanto não ouvem de maneira direta e inconfundível o "eu te amo",a confissão de amor eterno, a prova de amor mesmo que não inteiramente verdadeira, bastava-lhe, talvez, ouvir a declaração, insistiu tanto que ele desabafou:

- Não, não queiras gostar de mim, sem que eu te peça, nem tampouco ouse me dar o que eu não mereça, aquilo que dás agora e depois vais alegar e por culpa no meu rosto. Olha, sou sincero, não desejo dar-te nenhuma falsa esperança e nem muito menos desgosto porque, mulher, de quem eu gosto nem às paredes confesso.

Continuou o desabafo doído, meio frio e sincero:

- Veja bem, , até admito, às vezes aposto, que não gosto de ninguém - ela fez ar de riso triste - e ele continuou duro: - Podes sorrir, podes mentir, podes até, quem sabe, chorar, mas de quem eu gosto nem às paredes confesso!

Foi mais fundoaté falando meio emocionado:

- Quem sabe se te esqueci, se te quero, quem sabe se não é por ti que espero... Se eu gosto ou nao isso é so comigo, só comigo... Não insistas em querer me convencer. Nada te digo e nem falo o que insistes que fale. Fique fria e compreenda que de quem eu gosto nem as paredes confesso.

Nao disse mais nada e ela tambem se calou, apenas desejou que um da, quem sabe, ela e as paredes soubessem de quem ele realmente gostava. Era sua esperança, essa possibilidade.

PS: Não, esta música não tem nada a ver comigo.Nunca fui alguém assim duro e avaro de respostas, difícil, complexo. Mas, hermanos e hermanas, adoro esse fado, tanto na voz de Amália Rodrigues como de Nelson Gonçalves. Mais: nãosei explicar mas roí muito ouvindo essa música, talvez sem compreender direitooseu sentido. Éinda. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 23/07/2017
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