Pequeno Drama de uma Jornalista por Acaso

E agora tô aqui, fazendo mais uma edição do jornalzinho semanal do novo projeto de sistemas da empresa, e esperando a revisão dos chefes dos três setores. - Que aflição! Será que eles lembram do e-mail? - Já são quase seis da tarde, e parece que estão numa reunião interminável. - Por favor! Sexta-feira não é dia de fazer reunião! - Preciso dessas respostas para poder liberar a nova edição. - Anda, gente! Respondam logo!

Desde o início do projeto, não existe um processo de comunicação oficial decente. - Um horror! Total falta de transparência. - Parece que a equipe de gestão se esqueceu dessa parte. - Como assim? Inadmissível! - Negligenciar a prestação de contas, de notícias, para os outros setores da empresa, parece amadorismo. - Ou talvez… dissimulação? Como saber?

Há uns seis meses, manifestei indignação com isso, e então sobrou pra mim a tarefa de fazer estes semanários para o povo, por minha conta. - Trouxa! Quem mandou? - Conto as atividades da semana, as decisões tomadas, os próximos passos do projeto. - Tudo em que eu trabalhei nesse projeto. - E peço a ajuda dos chefes da área de negócio para relatarem as atividades dos seus setores. - Já que só sei dos trabalhos do meu setor, não dos outros.

Acredito que os colegas leitores precisam saber de tudo o que se passa no projeto. - Não só da minha área, claro. - Não sei adivinhar o que as pessoas querem que seja divulgado sobre o projeto, mas ouço as queixas da “rádio-corredor” e procuro publicar tudo que importa. - Mas como saber o que importa para elas? - Acabo publicando o que eu mesma acho que importa para elas. - E torço para que seja satisfatório, ou ao menos razoável.

Acredito que os chefes dos setores também, por seu lado, querem deixar claro o que estão fazendo no projeto. - “You know nothing, Jon Snow.” - O drama é este: não tenho como saber o que eles fizeram, e por que tomaram determinadas decisões sobre o novo sistema, a não ser investigando direto seus trabalhos. - Isso se eles próprios souberem (e quiserem) expor. - Dependo da vontade dos gerentes para relatarem suas atividades e suas decisões. - Sabe-se lá o que eles optam por divulgar e o que eles optam por omitir.

Se eu informo só o que eu presenciei, fica um informativo incompleto. - Muita coisa eu não sei. - Se eu relato simplesmente o que eu acho que os outros setores fizeram, sai um informativo impreciso. - Essas coisas eu não tenho como saber. - Se eu peço a contribuição dos chefes, fica um informativo mais completo - Talvez meio chapa-branca? Não sei. - Então fica o meu relato e o deles, e assim creio que consigo reunir o que importa aos colegas saber sobre o projeto. - Se não tudo, então o principal, ou ao menos... alguma coisa!

Finalmente, respondem, os três! - Beleza! Acabou a reunião! - Incluo os relatos deles na edição desta semana, conserto o português - Impressionante como é sempre necessário! -, relaciono com os meus relatos, e... envio o e-mail para os colegas. Não é muito, mas creio que é o melhor que eu posso fazer. - Pelo menos neste projeto, que até agora não tem processo formal de comunicação! - Alguns colegas me dizem que isso é “tática de guerrilha”, a sutil ocupação do lugar da comunicação oficial. Mas eu acho que é só “fazer o que precisa ser feito”. Tudo que eu quero é aumentar a transparência do serviço.