Flor de cerejeira

Seca. Vazia. Onde está o meu amor? O amor por mim? Há tempos que não sei. O amor por ele? Terá de deixar de existir. Ele não me quer mais. Desprezo em forma de silêncio. Eu mereço. Mereço por não me prezar, por deixar acontecer e me submeter ao que não é real. O tempo passa e eu não realizo. Secretamente espero sem agir. A dor passará, como muitas outras foram enterradas. E continuarei vivendo em corpo, sem propósito e sem alma. Lembro-me vagamente da leveza de sentir amor, seja por mim ou por outro. Saudade da leveza. Há beleza em mim que só eu sei. A emoção por uma nota de música, uma pincelada cheia de tinta, o sorriso sincero, a ternura pelo olhar do animal. Mas não me encanta mais. E não encanta a ninguém. A certeza de conseguir reerguer-me extinguiu-se após tantas tentativas e quedas. E para o mundo só resta o bruto - e o sonho sem forças de que o bruto um dia deixará de ser.

Luiza Müller
Enviado por Luiza Müller em 19/07/2017
Reeditado em 19/07/2017
Código do texto: T6058549
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