Gaveta de sapateiro e poema

Tenho num velho birô uma gaveta especial que um irmão chama de "gaveta de sapateiro". Nela guardo de tudo, toda espécie de trecos e coisas que, à primeira vista, não servem para nada, mas nunca se sabe... Dizem que gaveta de sapateiro é assim tem de tudo. Só abro a danada de tempos em tempos, em "edição extraordinária", ou seja, quando falta algo inusitado procuro na bendita gaveta. Vou fazer um paêntese, parece até conversa de bâbado. Mas é para tentar explicar e justificar o foco (gostaram do termo?) desta maltraçada. Houve um tempo, décad de setenta quando eu era xiita e crítico ferozda ditadura que quando me isolava paraler meus romances, Garcia Marques, Vargas Llosa, Caros Fuentes e o escambau de romancistas latino-amerianos, inclusive historiadores como Galeano, eu er chegado a tomar vinho, e naquela época só tomava vinho que considerava ótimos, er o caso do Chateau Duvalier e Chateu D'Argent. E tinha o hábito de guardar as rolhas (cortiças como dizemos aqui). Apois, como diria a minha desaparecida amiga Vera Morena, a Senhorita Vera, fi abrir dia desses uma garrafa do pernambucano Boticelli e arolha esfareleou dentro, tive que procurar outra rolha, não ia perder a garrafa de vinho. Onde achar aoutro rolha? Ora, na gaveta de sapateiro. Achei, uma rolha antiga de Chateau Duvalier, deu certinho pra botar no Boticelli. Fecho parêntese.

Mas, hermanos e hermanas, procurando a danada da rolha, al[em de uns espirros que poderiam gerar uma crise de asma, encontrei uma velha agenda de telefones, ainda do tempo que os telefones em Pesqueira só tinham três números. Passei a vista, alguns nmes recordei, outros não, mas aí encontrei, pregadinho na capa da agendinha m papel amarelado já quase esfarelado. Sabe o que era? Um poema que fiiz em 1977, numa época em que, pasmem, não fazia autocrítica e pensava que qualquewr caçador de ticacas podia cometer um poema. Tinha dois títulos, o primeiro "Suponha" e ao lado outra sugestão, "Sossegue a Periquita", como o Suponha estava riscado, acho que valia o segundo. Lembro que como escrevia uns textos para o jornal Nova Era, da Diocese, nao riam, levei para o diretor, o saudoso Padre Zé Maria, ele leu o oema e começou a rir, ri que embolava, desisti e guardeio o poema. ma merda de poema, mas que faz de certa forma parte da minha jistória "literária" (e bota aspas nessa veia literária). Apenas por gozação comigo mesmo vou transcrever o poema que estava encarcerado na gaveta de sapateiro há 40 anos:

"Suponha, apenas suponha/ Que o sonho que você soanha/ Nada tem a ver com a realidade/ Que está a anos luz da verdade/ Que com toda certeza/ tua pretensa grandeza/ é só uma mera fantasia/ de uma noite de verão/ gerada por uma ambição vadia/ uma baita duma alucinaação/ que vai fazer você despertar nu em pelo/ tremendo depois de um pesadelo// Acredite, meu irmão/ que confiar na ilusão/ é sucumbir à fantasia/ desconhecendo o que é a utopia// Não, irmão, nao desespere/ tome tento e não delire/ A vida é curta e fugaz/ é melhor tocá-la em paz/ distante dessa onda de ambição esquisita/ sossegue, sossegue a periquita".

Não, não me envergonho do poema, sei que setrata apenas de uma entativa vã de alguém que, ainda jovem, quer dizer jovem vírgula, tinha 34 anos, era esse do retrato que esta na minha página, o atual não boto nem a pau, enfim, há muito sei que não çpossuo veia poética, mas ficaa pretensão. Mas vou confessar outra besteira, datolografei o danado e mandei botar num quadro que vou pregar na parede. Acho que devemos nos orgulhar até das besteiras que cometemos. Faz parte do show da vida, juro. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 18/07/2017
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