The Hollywood response

Até os seus dez anos de idade, ao que me consta, mana Bebel assistiu a um único - e marcante - filme na vida. Era uma história de vida de Maria Goretti, imolada para ser santa. Foi ao ar livre, numa noite amena do Brumado de Pitangui, projetado do alpendre do Licurgo à parede externa do segundo maior prédio do povoado, a que chamavam carinhosamente de convento, por, no passado, ter abrigado moças solteiras e algodoeiras que trabalhavam na fapa, a Fábrica de Tecidos, esse sim, o maior prédio.

O estarrecimento e a comoção foram tamanhos - o povo insatisfeito com a barbárie cometida conta a adolescente, que chegou apedrejar a parede - que as exibições que se programava foram canceladas. Mas ficou em muitos a profunda e mágica, ainda que fágica, impressão da sétima arte.

Os anos e décadas que se seguiram pegaram Bebel já residente sucessivamente em Pitangui, Belô, São Paulo, e de novo em Belô. E o cinema tem sido sua companhia constante. Em Pitangui, aliás, e que mais lhe apraz, geralmente aos sábados, numa casa de cinefilia de excelência, cujo anfitrião é o Walter Guilherme de Freitas, ex-contemporêneo ginasiano que, além de enciclopédico e democrático saber nos domínios da filosofia, antropologia, sociologia, história, artes, música e outras ciências e paciências afins, compraz-se em curtir e compartilhar o cinema.

Na sua série cineclubística semanal e seminal, já dobrou há um par de anos a milésima apresentação, chez lui. O único obstáculo às apresentações - por prudência - é a instabilidade do tempo. Mas como não tem chovido praticamente no último lustro, as interrupções são raríssimas. Embora eu não possa garanti-lo, não duvido que Bebel tem rezado pela estabilidade do tempo, e tem sempre alcançado essa graça.

As plantinhas...

E em meio a esse gosto acendrado das telas e do que vai por trás delas, Bebel desenvolveu uma capacidade de processamento fisionômico que o próprio Google ainda não foi capaz de acompanhar.

Cada e qualquer pessoa comum, vista, referida, ou mesmo apenas lembrada, torna-se, de repente, um ator ou uma atriz hollywoodiano/a. Num piscar de olhos. Não conheço ainda um caso único que não tenha a correspondência das telas. Espelho, espelho meu...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 17/07/2017
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