Tem momentos que o silêncio fala mais auto!

Uma forma do silêncio se manifestar com caracteres, e sem palavras de jogos, isento de prolepses e analepses, despido de qualquer narrativa se faz necessário.

Afinal de contas há conversas em que o melhor discurso é o que assenta no silêncio. Nas palavras que não se pronuncia. Quando se conjugam, os fonemas foram do tempo, estes ferem mesmo que a intenção seja boa.

Fico pê, comigo mesmo quando não percebo o silêncio necessário. Paro e amuo comigo mesmo. Porque não raciocinei, porque não pensei, porque não antevi a idiotice que saiu em sopro da minha boca rota. Penitencio-me. Não quero causar mágoa mas origino o desconforto. E eu detesto desconforto.

O silêncio é hoje um momento raro. São capacidades em vias de extinção, aquelas que permitem saber quando estar em silêncio. O sofrimento é excessivamente comemorado. Sim, comemorado, porque não há sofrimento sem observação. Não se sofre sem antes avisar “olha, estou a sofrer!”. Quem sofre de um sofrimento sentido recolhe-se, encolhe o corpo na posição fetal e espera que não o encontrem. Agradece o abraço de quem sabe que a precisa, mas finge que não sente a dor. Porque a dor de sentir o sofrimento é forte demais.

Então recai o silêncio. A inexistência de palavras soltas, belas, complexas ou simples. Apenas a dor.

Gosto do silêncio porque diz mais que as palavras. Mas lá está, que era da vida sem as palavras, aquelas que atiramos à direita e à esquerda sem pensar muito bem em quem vão acertar. Palavras que lançamos em voto de som, sem saber que embatem por vezes com mais força do que um carro em alta velocidade.

As melhores palavras revestem-se por vezes do mais profundo silêncio. São aquelas que não são ditas. São aquelas que as sabem dois corpos que se suportam num abraço.

Gostava de pensar bem antes de falar. De reconhecer o silêncio quando ele é necessário. De deixar de o quebrar por incomodo. Porque o silêncio incomoda, agita, estimula. E então falo por falar, com a razão abraçada à intenção, que é sempre a melhor, mas nem sempre chega a bom porto.

Jova
Enviado por Jova em 17/07/2017
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