SEXO NA VARA JUDICIAL

Em 12 de agosto de 2014, escrevi o “miolo” desta crônica, que preservo e republico eventualmente, pelo que retrata de inusitado. Faz bastante tempo que não exerço, sou, aliás, advogado jubilado, mas me arrisco a dizer que a missão do causídico autônomo é danada, uma das razões que me direcionou preferentemente ao mister empresarial, no plano da consultoria. Meu irmão mais moço é médico, era cardiologista, mas desconfio que se especializou em anestesiologia para não ter de lidar com pacientes que detonam a paciência do profissional. Não é mole lidar com doentes, melhor sempre é colocá-los para dormir. Enfim, tratar com clientes, pessoas físicas ou jurídicas, é coisa pra leão, até para os mais renomados e experientes profissionais. Há poucos anos, dileto amigo, bom advogado, simples e batalhador, que presta serviços a um grande condomínio comercial, foi convocado para ajudar no deslinde de questão complexa e tormentosa, para dizer o mínimo. Acontece que o Síndico e o charmoso escritório profissional de advocacia que lhe presta orientação em temas supostamente mais intrincados e de efeito, não estavam conseguindo convencer promotores e juízes em uma ação em que intentavam refrear ou banir atividades lúbricas exploradas por certos proprietários ou locatários de conjuntos comerciais, enfim, a tradicional putaria - as casas de massagem - que espantava consultórios de médicos e dentistas das cercanias, dentre outros. Muita dificuldade para provar, por exemplo, que, em vez de massagem terapêutica, imperava a sacanagem pura e simples, a preço popular. A missão atribuída ao intrépido causídico foi muito singela, já que o badalado escritório relutava em pôr ostensivamente a mão na massa: frequentar três ou quatro salas, acompanhado de um servidor de Tabelionato, e informar-se do cardápio de serviços e respectivos preços para fazer prova judicial robusta e inconteste. O funcionário do Tabelionato lavraria, então, uma ATA NOTARIAL a ser apresentada ao juiz como prova irrefutável. E assim foi feito. Li a referida peça: foi reprodução fiel da história, um texto surreal, "chose de loque". Meu amigo, enfim, um tanto constrangido, teve de sair batendo de porta em porta para saber de preços, especialidades e ofertas da casa, acompanhado por atento servidor. Quando soube que o famoso “instante” ou “rapidinha” poderia rolar por R$15,00 ou R$ 20,00, junto com ele me convenci de que não é apenas a atividade advocatícia que está dura em nossos dias. Com certeza, dali não sairia nenhuma beldade para "book rosa, azul ou roxo", porém consta que a demanda era significativa. Não sei quem ganhou a causa, mas acho que as gurias faturavam mais do que os honorários que pagaram ao bravo advogado. E tem quem faz doutorado para enfrentar barras deste calibre.