POLÍTICA E JUSTIÇA: UM CONCUBINATO ESPÚRIO

Não gosto de falar ou escrever sobre política e os motivos são bem simples. Primeiro porque não sou especialista no assunto, sequer sou um historiador. Segundo porque as pessoas têm a péssima tendência a se extremar entre uma posição e outra, um partido e outro, um político e outro. Desta forma, acham que a sua preferência é o modelo de honestidade e ilibada moral; enquanto as dos outros merecem escárnio e condenação ao inferno de críticas e rigores da Justiça. É a velha batalha entre o Bem e o Mal. Mas não é bem assim. Não perfeições em lado nenhum. Todos têm seus defeitos e qualidades. Em tudo há coisas positivas e negativas, porém, é difícil para os cegos pelo extremismo movidos pelo ódio às diferenças enxergar que o mais sensato é a busca do equilíbrio.

Vamos ao que interessa. Dias atrás vi e ouvi de um analista político de uma poderosa rede de comunicações, após a condenação de um ex-presidente, que a lei estava acima de todos. Particularmente, tenho certeza de que o condenado não é um santo, portanto, não o defendo. Entretanto me pus a pensar: a lei está acima de todos? Que lei? A Justiça é para todos? Que justiça? É legal e justo considerar apenas provas que atendem a interesses particulares e corporativistas?

No dia seguinte ao dessa reportagem, ou mesmo no mesmo dia, não me recordo com exatidão, os noticiários mostraram em alguns lugares do país manifestações pró e contra o condenado. Os que se manifestaram a favor da condenação fantasiaram-se de verde a amarelo e foram às ruas, mais uma vez, comemorar não a vitória da justiça, mas a decadência de alguém. Oras! Isso é deprimente! Embora não seja historiador, mas um mero professor de português e literatura, recordo-me que quando estudamos o Modernismo Brasileiro em seus primeiros anos, nota-se a divisão deste em grupos que, além de defender ideias artísticas, defendiam também ideais políticos. Um desses grupos chama-se “Verde-amarelismo” e exaltava um nacionalismo xenófobo, aproximando-se política e ideologicamente do Integralismo, sistema que pode (na minha humilde opinião de não historiador) uma versão tupiniquim do Nazifascismo que se fortalecia na Itália e Alemanha. Isso foi apenas para refletir.

Os que se punham a defender o condenado, trajaram-se de vermelho e branco e empunharam suas bandeiras também nessas cores enfeitadas por uma estrela branca. Branco é paz, vermelho é guerra, é sangue. Paz e guerra não podem conviver. O Brasil não pode se dividir entre grupos que se vestem de cores diferentes, sejam elas quais forem. Todos estão errados porque não percebem a grande manipulação a que somos submetidos. Enquanto nos dividimos assim, os que realmente detêm o poder vão se perpetuando.

Outras questões que se colocam à nossa reflexão podem ser: inchar o Estado, transformando-o numa “vaca” onde ninguém quer largar as volumosas “tetas” e tornar os menos favorecidos cada vez mais dependentes dele é algo totalmente abjeto. Por outro lado, eximir-se o Estado de suas funções, inclusive as básicas como educação, saúde e segurança, deixando os mais desfavorecidos “ao Deus dará” é uma atitude tão abjeta quanto. Ao mesmo tempo em que não podemos apenas fornecer o peixe, mas ensinar a pescar, não podemos deixar os pescadores sem o mínimo necessário.

Voltando ao título e tentando explicá-lo. Sabe-se que não se pode viver e conviver sem Política e sem Justiça, pois são inerentes ao ser humano. Todavia, como continuar a crê-las se há tempos elas se uniram num conluio, num concubinato absolutamente imoral em que, além de defenderem os próprios interesses, ambas se locupletam em um nojento atentado ao pudor da ética e da moral. Por exemplo, li por esses dias que um deputado federal criou uma emenda prevendo que os candidatos à presidência ou a outros cargos não sejam presos oito meses antes das eleições e já li também vários comentários achincalhando essa ideia, com a qual também não concordo.

O que me perturba nesse caso não é a emenda em si, mas a parcialidade dos comentários de quem tem memória fraca e se deixa ser conduzido feito um fantoche midiático e partidário. Esses mesmo comentá-rios vieram à tona quando dois ou três anos atrás tentaram tornar o atual condenado Um Ministro de Estado, fato que não se concretizou porque a Justiça trabalhou de forma rápida. Porém, a mesma Justiça e os mesmos comentários calaram-se quando recentemente um “acusado”, “investigado”, da base aliada ganhou o status e cargo de Ministro de Estado para que fosse favorecido com a ilegítima e imoral vantagem do foro privilegia-do. Como confiar numa Justiça assim?

Recentemente, pessoas das altas esferas políticas e sociais do país foram favorecidas com decisões judiciais da mais alta corte do país e, ou ficaram livres das acusações que lhe eram imputadas, mesmo com provas, ou tiveram amenizadas as penas que lhe fora estabelecidas, cumprindo a tal da prisão domiciliar. Quem não gostaria de cumprir prisão domiciliar numa casa ou apartamento de luxo? Por outro lado, li que uma mulher condenada por um crime simples, roubara para alimentar seus filhos, tivera seu recurso de liberdade negado. Como confiar numa justiça assim?

Como confiar em deputados e senadores que se vendem em troca de milhões em emendas parla-mentares para votarem a favor de algo que no íntimo talvez saibam que é errado? Como confiar em quem perdoa dívidas trilionárias de grandes corporações e expropia o trabalhador comum? Como confiar em quem protesta com fantasias e panelas de forma seletiva e se ausenta quando os grandes problemas se apresentam?

Não defendo esta ou aquela denominação política, nem me coloco de nenhum dos lados desse jogo imundo que se tornou a política nacional. Sei apenas que é preciso acordarmos dessa letargia que insistem em nos deixar. Sei apenas que não dá mais pra servir de joguete entre direita, esquerda, centro e seus extremos. É imprescindível que as pessoas realmente de bem e lúcidas em todos os setores e grupos comecem a ver uma nova saída: quem sabe a união?! Para isso será necessário deixar interesses pessoais de lado. Quem será que está disposto?

O fundo do poço chegou. Estamos agora cavando para abaixo dele, mas ainda há esperança. É preciso alimentá-la a cada dia e não desistir. A limpeza que começou precisa ser concluída, mas de forma igualitária e não com essa parcialidade escancarada. Somente depois que tudo estiver limpo é que poderemos recomeçar. Enquanto isso, não nos deixemos cegar pelas polarizações que nos são apresentadas.

Cícero Carlos Lopes – 16-07-2017

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 16/07/2017
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