A VENDEDORA DE BALAS.

Deve existir alguém, disse a mulher que vendia balas. Ela não dirigia sua afirmação a mim. Mas eu a fitei com meus olhos de esperança, ela então percebeu que seu espanto havia despertado minha curiosidade.

Por segundos, nossos olhos se abraçaram como dois adolescentes querendo descobrir o que há por detrás de um desejo. Ela, então, deu dois passos em minha direção, senti o cheiro de varias horas de ruas e sol escaldante.Não disse uma palavra, tem horas que prefiro falar com os olhos, a fala as vezes esconde a essência das coisas que quero dizer.

Desconheço uma coisa mais inútil que o ato de não escutar os outros, considero de todas a maior caridade. Olhei sua caixa de balas, uma caixa de papelão vagabunda, com as beiradas poidas , no centro ,uma meia duzia de balas misturadas ao desanimo.

Neste ponto deixei escapar minha primeira palavra, até então minha comunicação era uma comunicação inteligente. Então disse: Hoje a maré esta para peixe! Ela me deu uma resposta apática; tá e não tá, nos tempos de vacas magras, a maré nunca esta para peixe, arrematou a frase com um sorriso no rosto.

Então tomei liberdade para explorar sua interrogação. Um sorriso sempre abre caminhos nas amargura. Agora o leitor , percebeu que a interlocutora me passou estar amargurada. Ela então jogou o cabelo de lado, expôs as maçã do rosto, e se enfeitou para , descortinar sua interrogação.

Sabe , sou infeliz, o que tenho está nesta caixa, Deus, deve ter tirado de mim e dado para umas que vejo nadar na mordomia. A tempos que não gozo de uma alegria ajeitada, quando não estou nas ruas vendendo balas, estou derretendo na solidão do meu barracão, aquele muquifo

onde a pobreza impera. Respirou profundo, sabia que tenho apenas duas o três peças de sair, que uso esses cremezinhos de pobre, uso esmalte de bancas, e nem imagino como é o interior de uma boutique, meus dias tem sido assim, sem dinheiro e sem amor.

Sai do meu silêncio: E se eu disser que tem tudo! Exclamei.

-Tenho é nada, pobre de mim. Ai comecei abrir o livro da verdade, sabe este livro que sempre deixamos fechado. Fui direto. Acha que ter essa sua beleza é pra qualquer uma, seu sorriso é a prova da perfeição, teus cabelos são para poucas, olha com respira suave, como anda desenvolta, e ainda tem um muquifo para esconder das intempéries do tempo. olhe um pouco além, aquelas podem dizer que tem pouco, elas além de roupas deploráveis , não deve ter se quer uma muda para sair, e os dias come teus corpos nestas avenidas. Acho , não afirmo, que o que tem, dá e sobra para sua caminhada. O que precisa é achar a sua paz, o dinheiro nem sempre nos traz felicidades.

Ela ficou mais próxima de mim, disse-me : Posso lhe dar um respeitoso abraço, afirmei que sim, abraçou-me, agradeceu-me, e com novas energias foi se retirando, senti que estava revigorada, fiquei a observar, ela então ofereceu balas e sorrisos a um cliente, vendeu, é claro, deu uma olhada em minha direção, e me acenou com a mão direita, enquanto a esquerda segurava sua caixa, e nos olhos estava toda sua riqueza...

Angelo Dias
Enviado por Angelo Dias em 15/07/2017
Reeditado em 23/07/2017
Código do texto: T6055338
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