Enterrados no Jardim

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Naquele dia, o Hospital de "Médicos Sem Fronteiras"no Oeste de Mossul, recebeu Mohamed, sua esposa Lamya e seu filho Samir, menor de 5 anos de idade.  A família era composta por 5 pessoas, entretanto, alguns dias antes, ambos viveram momentos de horror durante os quais, seu filho caçula foi morto. Fugitivos dos bombardeios e outras formas de Violência, a família apresentava-se com as vestes cobertas de poeira, membros feridos e ensanguentados e as fisionomias abatidas pela dor e pela fome.  O menino, deitado no colo do pai, degustava um biscoito de chocolate que recebeu de um funcionário do Hospital, enquanto aguardava pelo atendimento médico.
Do outro lado da rua surgiu uma senhora idosa, de cabelos brancos, que veio apressadamente ao encontro de ambos. Era a mãe de Lamya e avó de Samir. A pobre senhora não conseguiu segurar as lágrimas, nem a expressão de dor e tristeza ao ver nas feições de sua filha a expressão, as marcas das agruras vivenciadas pela família.

Lamya, que já havia perdido um filho de 9 anos em outro bombardeio, e outro de apenas um mês e uma semana de vida, estava abatida demais, dando sinais de quem estava prestes a se entregar à dor e ao desespero. Mohamed dirigiu-lhes algumas palavras de conforto, enquanto ajudava a idosa a erguerr a cabeça da filha a fim de que a mesma bebesse um pouco de água.

A família morava distante da avó, por isso, Mohamed precisou explicar para a sogra como tudo aconteceu:
“[Há três dias] minha esposa estava segurando nosso filho quando um morteiro caiu”, diz Mohamed.“ A parede caiu no quarto ao lado, onde minha mulher e irmã estavam. A princípio, não consegui entrar no quarto; havia tanta poeira que eu não conseguia respirar. Quando a poeira baixou, eu entrei e comecei a escavar através dos tijolos. Ouvi minha mulher gritando e tirei eles dos escombros. Peguei-os e os tirei dali. Quando removi os tijolos, descobri que meu filho estava morto”, conta. “Ele tinha um mês e cinco dias de vida”.

Felizmente o socorro chegou em tempo hábil, para salvar Samir e seus pais. Eles foram transferidos para outro Hospital, onde as etapas de recuperação irão continuar. Entretanto, outras feridas não irão desaparecer!

Sem dinheiro nem roupas além das que vestiam naquele momento, a família deixou o Hospital, de ambulância.
Mohamed olhou para trás e chorando inconsolavelmente, lamentou por não possuir mais a casa junto com o jardim, no qual havia sepultado seus dois filhinhos. Ele falava baixinho e repetia enquanto entrava no veículo: "Eu os enterrei no jardim! Eu os enterrei no jardim!" 
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Imagem do Google.

 
Aparecida Ramos
Enviado por Aparecida Ramos em 14/07/2017
Reeditado em 14/07/2017
Código do texto: T6054451
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