MORTE E LEMBRANÇA.

Não há como fugir no futuro de nossas pegadas quando da passagem por esses rincões onde impositivamente o espírito está vestido de matéria. Esse o cordão umbilical que não se corta, nossos registros de atuação. É nossa vida, não são vestígios, mas existência vinculada. Sorrisos ou deboches de hoje serão a vergonha dos descendentes amanhã. O reconhecimento o retorno do mérito e da decência na vida que trará orgulho e exemplo para a prole.

O que fomos seremos em memória, e se lembrados, o que preocupa infantilmente muitos, a lembrança se dará ao menos, creio que exclusivamente com intensidade, pelos descendentes imediatos, e traçará a margem de condutas reportando o pretérito, gestos e atos protagonizados.

Sobre nossos ombros deslocamos pelas estradas aqui cursadas nossas levezas e fardos, lastreados pelo espírito, sopro da alma, alimento mágico do pensamento, sintonia do amor, se existente. Ou fatos reversos.

Só há portas abertas para o que se foi na capital da lembrança, a saudade dos que lembram, se restou o carinho do abraço já ausente, do abrigo que acolheu, do conforto que movimentou a mão da solidariedade. Do olhar para o coletivo se alguma parcela de poder sobre ele se exerceu.

Nossa identidade no que foi nossa verdade deixada não muda pelo desaparecimento.

A morte, por vezes, silencia o agravo sobre o morto e por vezes enaltece quem não foi. É o chamado apiedar-se pelo desconhecido que chega, e é forte por ser desconhecido, e choca, consterna, atemoriza e por isso gera respeito, até o respeito não respeitável para quem não respeitou.

Mas ninguém muda para ser o que não é, e muito menos foi, nem presente em corpo e muito menos cessada a personalidade civil pela morte, transfigurada a identidade em lembrança. O destino é algoz de muitos que aceitaram um Deus sob reservas ou sem reservas, faltante lei moral ou respeito em gênero, rejeitada a correção como pessoa, maculados por suas incompreensões e intolerâncias em posicionamentos. Não reconheceram o que lhes foi dado, amaldiçoaram suas destinações. Somos lembrados se somos pelo que fomos.

Muitas personagens hoje no noticiário político-policial serão lembradas pela jornada. Surpreenderam nossa surpresa tratando instituições públicas como suas, uma banca de negócios, acertadas as malversações com inteira naturalidade e nenhuma vergonha como perguntado e respondido por um operador-doleiro a um magistrado espantado no Estado do Rio de Janeiro ontem.

Assim serão lembrados pela história. Os "SEM VERGONHA".

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 29/06/2017
Reeditado em 29/06/2017
Código do texto: T6040916
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