Primeira pele

Então, rapaz, como é que é? Cadê o encanto provido de carinho e destreza? Cadê os olhos firmes e as mãos sedutoras conduzindo, talvez, o único e último instante? Pois bem, gente boa, há que se entender que, entre um espaço e outro, é preciso que haja um encanto, uma docilidade, um domínio, uma desenvoltura. Domar um leão arredio e seletivo pelo coração não é tarefa para fortes não. É tarefa para a simplicidade do carinho e a humildade encantadora do desejo sem medos. Tarefa para quem nasceu assim e não precisa de tantos complicados retoques. Para quê adianta o vasto currículo se a vivência de mundo não condiz com os gritos das atitudes? Entenda, bom rapaz, sedução vai para além do mestrado ou intercâmbios, para além da roupa comprada na loja de grife ou do sobretudo vindo de Paris. Talvez uma regata surrada da Vinte e Cinco de Março cairia melhor. Muito melhor! A segunda pele não pode ofuscar a beleza da primeira pele, o caminho é encantador. Tudo começa pelo brilho do desejo, do estonteante e sufocante desejo na boca. Tudo começa pelo carinho das palavras medidas e pensadas delicadamente. Mas manter a calma é importante, um leão não deve ser beijado à força logo de cara. Ele merece respeito e admiração com bastante cautela, pois, seu harém é povoado da mais pura meiguice e linda juba acinzentada. Sua vida e seu coração tem instintos. E dos selvagens! Talvez o leão necessita só de um carinho, nada além disto! Até chegar a ser leão ele teve que enfrentar uma savana inteira de oponentes um dia. É da primeira pele que o leão gosta. No fundo o leão talvez seja só um persa branco a caminhar pelas almofadas da vida.

Daniel Cezário
Enviado por Daniel Cezário em 21/06/2017
Reeditado em 04/08/2017
Código do texto: T6033282
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