Um Lugar Para Evoluir

Era um dia típico de outono. Neblina pela manhã e sol durante a tarde. Lá estava eu, observando meu avô, admirando sua força, coragem e persistência. Mal sabia eu que seriam os últimos momentos e instantes com ele. Que o dia seguinte iria marcar para sempre.

Meu avô se chamava Dorvalino. Morava em Linha Planalto, São Lourenço do Oeste, Santa Catarina. Era uma pessoa que, com um único olhar, passava uma certa singelidade. Sua casa era bem grande, modelo típico de 50 anos atrás: era de madeira, tinha vários cômodos e um porão.

Ele não gostava de ir ao médico, foi difícil convencê-lo a ir se consultar. Só foi possível fazer ele compreender que precisava ir ao médico quando a sua bexiga já estava problematizada. Foram necessários muitos diálogos familiares para convencê-lo.

Finalmente foi fazer exames e, após isto, fez várias quimioterapias e mais exames. Foram diagnosticados vários problemas que se agravaram durante dois longos e árduos anos. Ele estava como uma vela acesa, que poderia se apagar a qualquer momento. Cada vez mais órgãos estavam sendo afetados: bexiga, rins, fígado, pulmões, coração; pois fumou e bebeu durante várias décadas.

Por ter sido um dos fundadores da comunidade, era conhecido por todos. Andava bastante com seu fusca. Detestava o inverno, era frágil perante o frio, permanecendo dentro de casa sentado, olhando pela janela. Sentia-se inútil por causa da doença.

Naquela tarde, que foi a última de sua vida, ele saiu, caminhou durante um bom tempo. Observava a paisagem, os pássaros, enfim, tudo que o rodeava. Estava vendo o mundo pela última vez. Seguia o extenso cercado que circundava a propriedade. Sentia o vento bater em seu rosto, no alto das montanhas. As nuvens passavam depressa e a neblina se escondia. Após passear pelos caminhos que fizeram parte de sua vida, pegou uma cadeira e sentou ao jardim. Estava cansado, pensando e refletindo sobre sua vida. Certamente sua missão aqui na Terra fora cumprida.

Anoiteceu. Fomos dormir. Eu tranquilamente, sem imaginar o que estava acontecendo. Ele teve uma péssima noite, passou por maus bocados. Ao amanhecer, pediu uma xícara de café para minha avó. Ela foi buscar de pronto. Quando voltou, meu avô estava ajoelhado com os braços apoiados na cadeira: seu coração estava parando de bater. Já estava desacordado. Minha avó ficou desesperada, mas sem exagerar, dificilmente podia-se vê-la chorar. Chamou a primeira pessoa que viu pela frente: meu irmão mais velho, que foi em seus braços que meu avô deu seu último suspiro.

Isso tudo aconteceu e eu estava ainda na cama, sem saber o que estava havendo. Mas, de repente, escuto a voz de meu pai ao telefone, ao ligar para a funerária. Suas palavras saíram com muita tristeza e, dessa forma, descubro que meu avô faleceu. Fiquei impactado por alguns segundos, até que a ficha caiu. Fui, com meus irmãos, até o quarto dele, ao local onde sua vida cessou. Mesmo morto, seus olhos estavam abertos. Vi eles fecharem. Chegaram vizinhos, fizemos orações até que vieram buscar seu corpo.

Quando cheguei à Igreja, perto de casa, no ponto mais alto da comunidade, onde o vento batia com mais intensidade ainda, ele já estava lá, com o caixão, as flores e as velas que chamaram muito a minha atenção. Diante da luz que as velas emitiam, meu olhar de fixava e eu evolui interiormente. Comecei a compreender, de fato, o que é a vida, o que somos e comecei a refletir mais a partir de então. Descobri o sentido de viver, dentre outras coisas, e abri as portas para a entrada de novos valores e experiências, continuando a receber esses incentivos sempre. Isso foi relevante para eu entender melhor sobre várias coisas que oscilavam nos meu pensamentos. Para eu, com mais virtude e integridade adquiridas, me tornar uma pessoa melhor, aceitar que a nossa vida na Terra é finita e encarar as realidades de minha vida, como ensinamentos que sintetizam o cotidiano.

Quando vou à Igreja lembro dele. Assim como quando o vento bate na pele e quando passo pelos verdes gramados do campo. Quando vou à sua antiga casa e quando caminho pela estrada. Sempre sinto sua presença.

Antonio Carlos Valentini
Enviado por Antonio Carlos Valentini em 15/06/2017
Reeditado em 17/10/2017
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