Não fujo do que sinto

Se vc me perguntasse um motivo para continuar vivo, diria A arte! Não tenho nenhum apego à vida, nem a ideologias outras (nem religiosas), que me fizessem querer aqui continuar. Não tenho receio de umbrais, infernos ou purgatórios, porque os tenho vivido intensamente dentro de mim.

Quando digo: "a arte", não é porque considere, bom ou especial, o que faço, mas porque é a única coisa na vida, que me dá por breves momentos, sensações de paraíso. Me tira da realidade e me leva para um outro lugar, onde eu existo e estou inteiro nele. Talvez, as drogas também funcionem assim. Mas minha "droga" é lúcida. Não perco minha sanidade, nem minha capacidade de pensar, ainda que também sacie o meu vazio existencial. (Temporariamente)

Quando falo isso, não pense que me mataria ou coisa e tal. Não sou um suicida, ainda que as vezes, pareça morto. Não fujo do que sinto por mais doloroso que seja. Encaro, mesmo sem ter onde me segurar. Minto! Me seguro na arte. Tem sido minha companheira, conselheira, amante, amiga e mãe. Ela me criou e me recriou muitas vezes. Nos amamos intensamente, nos encontramos e desencontramos, brigamos, nos aconselhamos e nos confortamos de nossas próprias incompreensões.

Ja vivi mil vidas através dela. Já fui tudo, já fui nada. Nasci, morri e renasci nela. Ela suporta meu choro, meu sorriso e meus defeitos. Através dela, sou homem. Mas também sou menino, quando preciso só de colo.

Não lembro como minha vida era antes da arte. Hoje, eu e ela, nos confundimos. Não sei mais quem é autor ou personagem. E também não me importa mais essa diferença, porque só eu convivo com essas duas partes.