Penso, interrogo e paro

Sou professora. Então como não refletir sobre a relação discente/docente? É quase impossível! E se não o fizesse, talvez estivesse sendo injusta e omissa, pois penso serem os alunos atuais um componente extremamente atrativo aos olhos de um bom observador. E é fato que não paro nem me canso de pensar nesses jovens e naquilo que envolve o oficio de ensinar, afinal eles são a razão de minha profissão.

E aqui estou eu de novo a tentar registrar minhas considerações a respeito de mais um tema perigoso. Mas temas assim é que são capazes de, quem sabe, “sacudir” as concepções das pessoas.

Os relatos com os quais, muitas vezes, tive contato concluem que é comum acreditar na ineficiência da escola ao exercer sua tarefa primária: educar. Esse mito infelizmente foi e ainda é muito difundido na sociedade de tal modo que induz muita gente a pensar nas instituições de ensino somente como fracasso. E esse mito já é tão comum que muitos nem param para refletir sobre sua aplicabilidade. Então vamos lá. Prepare-se!

Observo que não é unicamente esse cenário que existe. Inegável é o despreparo de muitas instituições que não dão conta de tantos alunos envolvidos com o mundo do crime e muitas vezes sofredores por problemas sociais como alimentação, por exemplo.

Contudo, presencio profissionais que trocam finais de semana por cursos de aperfeiçoamento, noites por momentos de estudo e reflexão. A presença de gestores “cara a cara” com aluno e professor, apesar de raro, não é fato inexistente como também não o é a manutenção da autoridade e da hierarquia equilibradas à ação amorosa.

Professores que sentam e analisam academicamente aluno por aluno; que tentam veementemente dialogar com a família sem, conforme Lya Luft, tomar seu lugar; que lutam pela assiduidade, responsabilidade, discernimento, capacidade de dialogar dos alunos têm, felizmente, sido encontrados por aí.

Por outro lado, noto que as atitudes parecem caminhar em direções opostas. De um lado, algumas instituições primam pela qualidade incentivando o estudo, reflexão e inovação; de outro, adolescentes se mostram resistentes às regras, ordens, cumprimento de deveres e obrigações. Alguns também repudiam costumes e valores como respeito, autonomia consciente, tolerância, dentre vários outros tantos.

O que observo, apesar de tantas investidas por parte dos pais e das instituições, são alguns discentes que não valorizam o que têm, que não reconhecem sequer o esforço dos próprios pais, quanto mais de professores! Que não se empenham num comportamento tolerante, solidário, e que não veem como absurdas coisas como essas que atualmente aparecem na televisão.

Será que estou sendo exigente demais? Lembro-me de quando era adolescente. Apesar de meus pais trabalharem demais, coisas como desrespeito eram inaceitáveis. Como as coisas mudaram!

Será que a escola tem que dar conta disso tudo? E a família? Será que a relação escola x família é feita entre “pessoas sim” ou entre “pessoas não”? Será que é tudo um exagero? Devemos nos omitir? Fechar os olhos? Ou investir em munição consciente para continuar a batalha? O que fazer?

Confesso que não sei, por isso paro e quando paro é para também tentar encontrar soluções, entretanto ainda não as encontrei. Então, continuo investindo neste desafio sem jamais desacreditar em uma educação amorosa muito além do bê-a-bá.

Claudine Almeida
Enviado por Claudine Almeida em 27/05/2017
Código do texto: T6011067
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