CONVICÇÕES SÃO PIORES QUE MENTIRAS

Num dos meus poemas cujo título e conteúdo exato esqueci, eu escrevi: " Tenho um problema com ideias prontas. Sou avesso a quem nunca duvida e está sempre certo de tudo." Essa coisa da verdade absoluta sempre me incomodou.

Tendo a antagonizar quem quer se apresente “seguro demais” das coisas, isso é responsável por várias notas vermelhas na escola e vários perrengues na faculdade...

Para minha desgraça, eu, pouco afortunado no que diz respeito a dons em geral, fui incontestemente "agraciado" com dois, a saber: atrair maluco (que será tema de outro escrito) e pessoas sabe-tudo.

Talvez eu seja só um observador mais atento, mas é impressionante como as pessoas ao meu redor são capazes de emitir, com segurança, opinião sobre tudo, às vezes formando convicções instantâneas sobre um tema até então ignorado. Um troço estressante...

Ao colocar em ação a Operação Barbarossa em junho de 1941, envaidecido pelo sucesso da campanha contra a França, Polônia e os Paises Baixos, Hitler ignorou as ponderações dos generais alemães quanto à inaplicabilidade da blitzkrieg devido às dimensões do território russo, às lições da 1ª guerra quanto a uma guerra em duas frentes e às lições napoleônicas sobre lutar no inverno russo. Hitler não precisava de lições de história, ele estava convicto...

Em abril de 1945, enquanto a bandeira soviética tremulava no Reichstag e os soldados russos estupravam suas mulheres e filhas, devolvendo na mesma moeda a visita dos alemães à terra de Stálin, dá para imaginar os elogios que os generais alemães fizeram à pobre mãe de Adolf.

Se eu tenho uma certeza na vida é a de que só se avança na dúvida e que as convicções são mais lesivas a verdade do que as mentiras...

A certeza, no campo das ideias, é limitante e castradora, nos torna obtusos e arrogantes- Talvez por isso que acha que encontrou a "verdade" se torne tão chato e por vezes violento...

Então, num esforço para externar esse meu descontentamento com esses portadores do chip da verdade, eu escrevi aquele poema tão crucial para a poesia mundial que até eu esqueci dele...

Essa crônica vem ao caso nesses tempos de dicotomias tão excitadas, de certezas tão arraigadas, de um maniqueísmo tão obtuso e hipócrita.

Serve também pra marcar a distância astronômica que existe entre mim e o autor da frese que resumiu a intenção do meu poema esquecido e desta crônica na seguinte frase: "Eu nunca vi um débil mental hesitar. Todo imbecil é convicto"...

Nairson Luiz Santos
Enviado por Nairson Luiz Santos em 27/05/2017
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