A CURA DA LOUCURA

Apenas um beijo. Como se fosse um abraço imenso entendendo a minha cabeça aflita, desesperada em busca de respostas nas perguntas que só faço a mim mesmo.

Apenas um sorriso. Que possa compreender o que sinto, mas que retribuo tâo pouco porque o que vivo é quase não entendido pelas minhas próprias compreensões de vida e existência.

Apenas um afago. Que haja um sono tranquilo na busca da paz que persigo, não encontro, mas dorme comigo, feito aquele travesseiro que não largo jamais, e ao mesmo tempo jogo ao chão.

Ouço vozes de não sei de onde que se misturam aos meus ouvidos pedindo que eu vá a um lugar que não conheço.

Apenas um gesto. Aquele que vai amenizar um pouco a minha loucura que não acaba nunca e talvez seja pelo menos domável pelas minhas infinitas lutas que combato tanto dentro de mim.

A minha suposta loucura está na minha bíblia quando não consigo decifrar o que leio, tentando compreender o mais difícil das compreensões.

Apenas um cântico. Que seja a sua música a mais perfeita harmonia, contornando estradas que não conheço desenhando o meu amanhã, como se o ontem deixasse de ter existido.

A cura da minha loucura não se expressa na minha surdez, na minha cegueira nem na forma das coisas que sinto ou verbalizo. Não sou surdo, não sou cego mas falo muito pouco porque me cobram a loucura da minha doença, quando, na realidade o que desejo é apenas um cantinho de repouso e um sono de paz.

Apenas um lar. Um lar daqueles aonde coubesse um beijo, um sorriso apertando os dentes, gesticulando feito um maestro e sua batuta, entoando cantigas antigas, e ensaiando nessa noite fria o meu dia de acordar melhor.

Fernando Varela
Enviado por Fernando Varela em 27/05/2017
Reeditado em 05/06/2017
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