DECLARAÇÕES DE AMOR

Tenho observado e lido, ao longo do tempo e em diversos meios, algumas fortes declarações de amor entre pais e filhos, em ocasiões como casamento, formatura, aniversário, por exemplo. Acho bacana, são belas palavras e atitudes. Vale muito. O que me leva a escrever, comparativamente, é que jamais tive com meus pais, nem eles comigo, comportamento retórico de tal natureza, caloroso, derramado. É claro que está fora de consideração a infância – período áureo em que praticamente todos recebem muito.

Talvez seja uma questão cultural, pois também com meus filhos ocorre algo semelhante, apesar do grande amor existente entre nós. Talvez seja particularidade de temperamento, de jeito de ser ou de expressar-se. Eventualmente, no meu caso, possa ter sido a influência do fato de ter saído de casa aos 10 anos para residir com os avós e estudar na Capital. Quanto aos pais, a morte deles teve a força libertadora de barreiras e constrangimentos: hoje escrevo vários textos em que os exalto, mas sem derrame de palavras ditas amorosas. Em nossa família, no meu ramo, talvez o discurso não seja exuberante, mas os sentimentos são. Somos bastante apegados, muito próximos, íntimos, mas o verbo é relativamente econômico. Os gestos são bem mais eloquentes e para mim está ótimo. Afinal, genuínas emoções não cabem na estreiteza do universo vocabular.