Foto-grafia
A câmera estava posicionada. Olhar atento, a tempo - momento preciso. Preciso relatar que o fotógrafo aguardou toda uma vida para aquela foto. Ele queria uma foto que coubesse o infinito. Fotografou o mar, as estrelas e as paisagens.
Cada foto continha apenas parcelas de seu desejo. Singular - seu plano de vida. Alguns nascem com os mais estranhos ímpetos.
Viu, porém, um dia uma criança. Sentiu-se ligado por afeição. Ela era miserável de bens. Tinha tudo que lhe acrescesse falta. Resolveu imortalizar em película.
A criança sorria para a câmera e dissumulava uma alegria que não tinha.
Voltava ao trabalho.
Findo a sessão, inútil e vã, resolve despedir-se daquele vilarejo.
O fotógrafo lembra de um brinquedo do filho no banco traseiro do carro.
A criança agora para o trabalho braçal. Fascinada pelo brinquedo, se vê criança pela primeira vez.
Um primeiro sorriso verdadeiro. Olhar atento - câmera a mão, dedo rápido. Flash.
Ao revelar a foto o sorriso mais lindo jamais visto antes. O fotógrafo não mostraria a foto. Guardada.
Precisei transformar isto em palavras pois aquele homem capturou o infinito em instantes de uma alegria única.
O infino, preso em negativo - revelado.
E toda a trajetória da humanidade, suas guerras, paixões e invencionices, conduziam apenas para aquele sorriso.
O infinito, tímido, acanhado, pouco se revela - senão aos olhares atentos e às mãos com dedos rápidos.
- Luan Santos, 19/05/2017 -