O chamamento da mulher que eu seria

          Se eu fosse mulher, gostaria de ter um nome que pudesse ir se alterando ao longo da vida, de modo a facilitar a busca por meu parceiro.


          Nasceria, certamente, Inocência e, assim, seria pura por algum tempo, ao menos até o ponto onde isso me tornasse desinteressante em demasia.

          A busca por potencializar meu “sex appeal” me levaria a chamar-me, então, Afrodite e, assim, nada eu negaria, porém isso faria com que eu nunca fosse de um só.

          Talvez, para compensar, eu mudasse meu nome para Glória e a atração que eu provocaria seria pela promessa de fáceis recompensas, porém inevitavelmente isso seria passageiro. Quiçá Vitória fosse uma melhor opção, pois assim seduziria com facilidade, mas isso só proporcionaria alegria, também, por não mais do que um breve momento.

          Sei lá... Esse caminho parece que seria cheio de percalços e desilusões e, inevitavelmente, em algum momento, por rancor, quem sabe, eu me tornasse Dalila. Porém, isso poderia fazer com que eu tivesse de assumir-me de vez como Soledade – e isso, de jeito nenhum, pareceria interessante.

          Fosse como fosse, fugiria sem titubear de ser Amélia. Não! Isso jamais!

          Pensando bem, melhor me cairia, com a maturidade, chamar-me Esperança, porque é aquilo que todos, de um modo ou de outro, sempre buscam. Talvez, Expedita, porque ser útil com prontidão é predicado que também está entre as predileções inconfessáveis de muitos.

         Mas neste mundo, tão obscuro e sombrio, quem sabe melhor fosse que eu me apresentasse como Aurora.   Ou, diante de tanta falsidade que graça por aí, ser Vera talvez me assegurasse garantias que de outro modo não teria.

          As conturbações e incertezas do cotidiano, entretanto, poderiam fazer com que melhor seria chamar-me Plácida ou Serena.

          No fundo, no fundo, de alguma maneira o melhor nome seria Benvida – desde que fosse sem arrependimentos.

          Ah! Se eu fosse mulher, creio que qualquer nome me serviria, desde que eu encontrasse o homem dos meus sonhos e que ele me chamasse, simplesmente, de “meu amor”.