DIGNA MERETRIZ.

DIGNA MERETRIZ.

Dizem ser a mais antiga das profissões, aquela onde se esvai toda a dignidade, quando nada mais resta em alternativas, se entrega o corpo na entrega mais íntima. Porém, nada nos pertence tanto quanto nós mesmos, em essência e matéria, se tudo na vida nos fosse tirado, ainda assim, havendo vida, o nosso corpo ainda é nosso. Nosso maior patrimônio, morada da alma, receptáculo de sentimentos, represa de emoções... nosso corpo, nossa Nau, nosso habitat enquanto humanos, e sendo assim, nosso arbítrio sobre o livre uso mesmo no abuso imposto.

Sempre que, (e na conjuntura atual dos fatos, sempre mesmo, pois, parece sem fim, algo que não se sabe onde começa, uma vez que parece ser ainda mais antigo que a mais antiga das profissões, a prostituição dos valores, a usurpação dos direitos e o abuso do poder) um novo fato se descortina sobre o lodo de corrupção, é inevitável a comparação, a cada político que foi comprado, que recebeu fábulas em espécie e agrados milionários por seus favores íntimos na calada da noite, o análogo parece perfeito, são prostitutas que vendem favores, mas não, não há comparação que caiba ou que se ajuste a essa promiscuidade.

Prostitutas vendem sua dignidade, mas por talvez não verem outra opção na falta de oportunidade.

Prostitutas vendem a sua segurança, a cada vez que saem para exercer a alternativa de ganho que resta.

Prostitutas vendem sua saúde, pela necessidade da entrega a qualquer preço e a qualquer hora.

Prostitutas vendem seu corpo, por ser seu e dispor apenas dele como mercadoria.

Prostitutas vendem sua alma, toda vez que entregam a essência do sagrado que simboliza a união e o amor.

Mas eles, os senhores do poder, que não vestem roupas sumarias e nem andam de salto alto, esses que se escondem por detrás de belos ternos, e sapatos de cromo alemão, que se deitam sobre as possibilidades de ganhos escusos, que assaltam a luz do dia empunhando a mais letal das armas, (uma simples caneta), assinando contratos escritos em linhas embusteiras, não, não são prostitutas, são sim gigolôs, são os piores escroques que possa existir.

Eles vendem a dignidade do povo, a cada achaque que fazem aos cofres públicos e roubam a oportunidade de crescimento e desenvolvimento do país.

Eles vendem a segurança do povo, quando o desvio sangra os recursos que deveriam ser destinado para redução da criminalidade e diminuição da desigualdade.

Eles vendem a saúde do povo, uma vez que o que poderia ser investido em hospitais e saneamento acaba por escorrer pelos dutos imundos da corrupção.

Eles vendem o nosso corpo, sempre que por conta da roubalheira a conta não fecha e o trabalhador tem de carregar o fardo de mais impostos e jornadas infinitas de trabalho sem previsão para o descanso futuro.

Por fim, eles vendem a nossa alma, toda a vez que destroem a esperança disseminando o pior dos exemplos, comercializando o crime como meio perfeito para se alcançar os objetivos.

Políticos, sem medo de generalizar, são os cafetões que nos prostituem diariamente, então, em algum momento, essa comparação sempre é feita, prostitutas e políticos, mas isso é um insulto as prostitutas, pois elas, merecem respeito!