O QUE É POESIA?

“Poética” e “Não poética”

Transcrevo trecho de autoria de MARIO QUINTANA, da pág. 99, de “A Vaca e o Hipogrifo”, edição do Círculo do Livro (licenciada pela L&PM Editores), de 1977:

{“...o que há contra a vaca? Como uma prova de sinceridade e falta de malícia dos poetas modernos, que se recusam a reconhecer qualquer distinção entre coisas “poéticas” e “não poéticas”, eis aqui um poeminha que, por volta de 1930, nenhum jornal, nenhuma revista de Porto Alegre quis publicar e que agora insiro de contrabando no meio desta prosa:

“Ora, Maria, o meu mundo é de

Temperaturas,

Tensões,

Fulgurações.

Eu nada tenho a ver com sentimentos humanos!

Por que tu não és uma vaca, Maria?

Por quê?

Ficaria tudo mais simples e verdadeiro...”}

Lembrei-me desse trecho da publicação do poeta porque, com relativa frequência nos deparamos, ainda hoje, 2017, com manifestações do mesmo espírito acadêmico-conservador-elitista de lá muito atrás - no caso do texto do Mário Quintana, 1930 – que se arvorava como determinador do que fosse ou não fosse poético. Quem decide o que seja ou não poético, em conteúdo e forma, é o autor e seus leitores. Mesmo até que possam eventualmente ser inequivocamente péssimos, tanto um quanto os outros.

Penso do mesmo modo que disse o próprio Quintana: “Eu acho que todos deveriam fazer versos. Ainda que saiam maus. É preferível a alma humana, fazer maus versos a não fazer nenhum.”