EU NUNCA QUIS A PORRA DE UM ALL STAR, MAS QUERIA...
 
Ontem à noite assisti a um programa onde a Rita Lee vestia um tênis All Star “canulongo”, prestem atenção: “Vestia! Não calçava, pois um All Star não é qualquer pecinha de vestuário, ele é gerações... todas - Z, Y, W, Alfa, Beta, Ômega e todos os alfabetos vivos e mortos já existentes nas civilizações. Mas por que me chamou a atenção esse detalhe? Foi pela Rita Lee ou pelo tênis? Nenhum. A questão é de polêmica passada, ideologia ainda com a mesma concepção formada, pois eu nunca tive um All Star! Bingo! Creio que metade da população mundial nas últimas quatro décadas tiveram pelo menos uma dessas coisas: ou um megadrive, um banco imobiliário, um Playstation ou um All Star; com todos os outros eu tive bastante intimidade, até demais, ao exagero, chegando às vias de fato, em certos momentos de desespero, com as personagens artificiais, mas com o All Star, apenas lembranças. Hoje, é óbvio, poderia teclar qualquer site de vestuário que em 5 cliques eu já estaria com um novinho no carrinho. Mas isso é insosso demais, não tem romantismo nenhum, aquela coisa de saber que na sua cidade a única loja que vende calçados só trouxe 10 pares, dos quais todos já estão reservados e só fará outro pedido quando um lote de clientes aderir ao produto novamente.
A minha fase do All Star foi no início dos anos 90, quando o vi pela primeira vez, foi coisa parecida ao mesmo impacto que senti ao ouvir “Smells Like Teen Spirit” do Nirvana – abalo sísmico, escala Richter, acima de 10 pontos -, mas não sabia, na época, que o calçado já existia há bastante tempo e só estava na moda novamente, justamente por causa de Kurt Cobain que o usava diariamente antes de formar a banda; isso foi uma informação que só descobri décadas depois, com várias leituras sobre a banda, biografias lidas na internet e a mais espetacular - "Heavier than heaven - Mais pesado do que o céu - Uma biografia de Kurt Cobain" de Charles R. Croos.  
Vê-lo deslizando delicadamente nos pés macios das minhas noviças colegas de 16 anos, era quase doentio; o clássico – cadarços brancos entrelaçados em “X”; outras mais atrevidas faziam um enroscado elegante em cubos; tecido de lona de algodão preto, cano curto, bico branco de borracha, uma fina faixa vermelha divisória e estilosa para realçar a dicotomia do preto com o branco, localizada um pouco abaixo do tecido, antecipando o final do calçado, apresentando o seu solado também emborrachado, porém de cor natural ao destino.
Não que eu tenha sentido falta de um dia não ter usado ou ter a posse de um dos bilhões que foram vendidos mundo afora, em lembranças de juventude perturbada, tal qual o espírito da época, o que eu menos queria era ser “Toda Estrela!”
 
Agmar Raimundo
Enviado por Agmar Raimundo em 05/05/2017
Reeditado em 05/05/2017
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