Cássia

Naquela manhã ele se sentia especialmente bem. Andava leve, quase aos saltos, chutando uma pedra ou outra que aparecia no caminho. Sempre com um sorriso largo no rosto e um "bom dia" firme, que esbanjava sempre que cruzava com alguém pelo caminho. Estava feliz. E foi assim que, em respeito a sua rotina matinal de sábado, entrou na pequena cafeteria, timidamente espremida entre dois prédios da calma rua Vitória, no centro da cidade. Pediu o café, como de costume, se ajeitou na cadeira e abriu o jornal que havia comprado pouco antes de chegar ali. Foi então que, do lado de fora, uma coisa lhe chamou a atenção. E olhando atentamente pela janela, sentiu seu coração se entristecer ao perceber que a árvore, uma Cássia, que até no dia anterior estava intacta, linda, florida, viva... havia sido cortada. Sentiu-se dilacerado por dentro, até mesmo traído. Não conseguia entender qual seria a necessidade de tal coisa. Ainda paralisado, se lembrou de tantas manhãs de sábado que passara ali, quase sempre na mesma mesa, inclusive, observando toda a beleza da natureza resumida àquela linda árvore. Ele se virou para sua xícara de café ainda cheia, não sentiu mais vontade de beber. Nem de continuar lendo o jornal. Pediu a conta, saiu pela porta. E com um sentimento amargo, bem diferente de como entrou, partiu. Talvez para não mais voltar.