Guerra e paz

Numa pequena ilha em meio a um lago, contemplo a natureza. As flores, a garça caçando pacientemente seus peixes no beiral, o vento dançando com a copa das árvores. Pássaros que fazem daquele paraíso seu lar. Voam e voltam a pousar nos galhos como numa brincadeira de criança. E assim passam-se os minutos, observando o vai e vem dos pássaros, mergulhando na grandiosa simplicidade da natureza.

Eis que de repente, surge vindo de outros ventos, um novo pássaro. Diminui sua velocidade e se prepara para pousar em um dos galhos. Mal toca a copa da árvore, e ouço um alvoroço, como um alarme disparado diante de uma invasão. Aqueles pássaros que brincavam tranquilamente se unem em formação militar e voam em direção ao forasteiro, num grande barulho de guerra. -“Fora, este é o nosso lugar!”- e o outro sem demora, como se dissesse –“Calma, estou indo, me desculpe!”- levanta seu vôo rapidamente e desaparece no horizonte. E tudo volta ao que era antes, cada um dos moradores em seus galhos, voando, voltando, voando e voltando.

Não se via uma reunião pós-guerra para estabelecer fortalezas, reforçar defesas e melhorar armas. Simplesmente voltaram as suas vidas, sem rancores, sem más lembranças e sem ressentimentos. O intruso já foi. Quando outro aparecer, voltarão a se reunir da mesma maneira e expulsá-lo.

Quanto ao invasor, este foi procurar outro lugar para se estabelecer. Continuou voando e procurando. Provavelmente não foi pensando em como melhorar suas estratégias de invasão, nem em fabricar armas de ataque, muito menos em vingança. Não guardou mágoas do bando de pássaros que não o deixaram ficar na pequena ilha do lago. Simplesmente voou.