Diamantes

Sempre tive a fama de ser um pouco dura. Não insensível, ufa, mas dura. Fria na hora de demonstrar sentimentos e isso talvez pelo meu jeito reservado ou de só falar sobre eles quando estou totalmente certa deles. Já me disseram uma vez bem no meio da fuça que eu não era carinhosa, e poxa, eu sou do afeto. Eu sou muito do afeto. Me desculpe se eu preciso de uma certeza que nem sei bem do que, mas todo afeto me afeta sim. Talvez por isso eu também já tenha errado em dar carinho a quem nem merecia e negar a quem me olhava com ternura. Essas coisas regradas demais sempre nos confundem. Dói assumir isso? Dói! Mas quem controla tudo? Me toca e eu vou tocar você com toda doçura e cuidado que tenho no peito. Se a dificuldade for justamente alcançar a minha alma, você precisa saber que esse bloqueio também não controlo. Assim, as desculpas são pra mim.

Eu fiquei pensando em como ser mais leve e carinhosa com as palavras por achar que andava cruel demais ao escrevê-las. Eu quis dar um alívio para minhas quintas feiras e percebi o quão desafiador é tentar ser leve carregando ainda tantos pesos.

E como o cotidiano sempre nos inspira me lembrei de imediato das peripécias da minha sobrinha de 4 anos. Ao brincar pedindo que ela voltasse a ser um bebezinho ela responde repleta de sensatez: ‘Não dá. É pra frente que a zente anda’. Ah ta. Eu a vejo comemorando as mínimas conquistas, como não trocar o R pelo L, e replico: mas era tão bonitinho ouvir você dizer “calinho”. E mais uma vez ela é dona: ‘mas tia, a zente pecisa quescê’.

E eu fico naquele impasse entre me perguntar para onde vai todo nosso equilíbrio quando precisamos dele na vida adulta ou abraça-la e dizer: ah meu amor, não cresça não. É uma cilada.

Duro mesmo é reconhecer o quão certa ela está e saber que um dia não pensará nisso tudo com a mesma inocência. Crescer implica tanto adeus.

*Textos de Quinta - Para fugir da responsabilidade.

Um a cada quinta. Não é promessa, é desejo =)