O dia de uma heroína de ficção

O DIA DE UMA HEROÍNA DE FICÇÃO
Miguel Carqueija



É um fato curioso que nos últimos anos não param de se suceder eventos insólitos, inusitados ou pelo menos incomuns, envolvendo a divulgação e o prestígio de uma super-heroína japonesa, Sailor Moon, criada em 1992 pela mangaká Naoko Takeushi, publicada pela Kodansha e exibida na televisão em séries da Toei.
Coisas pouco comuns em personagens de ficção acontecem com essa criação hoje mundialmente conhecida e prestigiada. Isto não deixa de ser insólito pois os super-heróis norte-americanos, que se tornaram uma coqueluche imposta em rolo compressor por um monte de revistas apavorantes que empestam as bancas, e por filmes de Hollywood super-badalados, de há muito perderam a ingenuidade que apresentavam nas décadas de 30 até 60 ou 70. Foram atingidos pela revolução da contra-cultura e hoje não passam dessa teratologia e paranoia que podemos constatar. Basta folhear uma dessas revistas nas bancas, ou até olhar as capas: agressividade, intolerância, monstruosidade, expressões cheias de raiva... corpos retesados e prontos para a violência. E não pensem que sejam somente os vilões. Ora bem, os Estados Unidos são a terra por excelência dos super-heróis, a maioria é de lá e também os mais conhecidos.
E mesmo nessa terra Sailor Moon, embora represente uma super-heroína diferente – doce e meiga, espiritualizada, luta pelo Amor e pela Justiça (seu lema) vem obtendo grandes triunfos.
Já se pode mesmo dizer que, nessa competição desigual, hoje Sailor Moon ombreia com os mais populares super-heróis norte-americanos.
Nos dias 7 e 8 de abril últimos a turma do musical de Sailor Moon (óperas regularmente apresentadas no Japão e colocadas em DVD) esteve no evento “Anime Matsuri” na importante cidade de Houston, Texas. Em pleno país dos super-heróis violentos da Marvel e da DC. Apresentaram uma versão adaptada da ópera “Amour Eternal” que é a mais recente já montada no Japão. Ora bem, esses espetáculos graciosos, que podem ser localizados no youtube, começaram em 1993 e só recentemente começaram a extravasar do Japão; é a primeira vez, pelo que sei, que chegam na América. E o resultado foi tão extraordinário que o prefeito de Houston (infelizmente não encontrei seu nome na fonte sossailormoon.com.br) ao entregar um troféu à Sailor Moon (isto é, à atriz Hotaru Nomoto, que vem interpretando a Princesa da Lua nessas óperas) declarou que a partir de agora, 7 de abril passa a ser o Dia de Sailor Moon naquela cidade.
Eu nunca soube que em qualquer lugar do mundo houvesse uma dia no calendário em homenagem a uma personagem da ficção, exceto no folclore. Super-heróis ignoro. Mas é um bom sinal, prova de que não é só o culto à violência que vence na mídia.


Rio de Janeiro, 18 de abril de 2017.