Não era gay

Não era gay! Após anos de discussões efervescidas, amizades destruídas, respostas na ponta da língua, Agapito tinha certeza que não era gay. Este tema tinha assombrado sua vida desde que chegará ao mundo e seu o pai, o Sr Jair, ao ver seu pequeno filho envolto em uma manta rosa na maternidade, o chamara de minha pequena Anastácia e mesmo depois que D.Odete, sua mãe, o repreenderá dizendo: Jair é um menino; e o pai encabulado lhe questionará – tem certeza? Pois a esta altura já havia aberto a manta que envolvia a criança rosada e naquele gesto paterno imortalizado por todos os pais sem precedentes, abrirá as pernas do bebê e virá que o membro de seu filho varão nascerá atrofiado.

Sob o olhar censurador de D. Odete, ele calou-se, mas no intimo de seu ser de pai tinha a certeza que ali começava sua tragicomédia.

A infância de Agapito também foi marcada por questionamentos e insinuações perturbadoras que faziam a criança duvidar ainda mais de sua heteronormatividade, sentindo-se estranho e alheio a tudo que se espera de um menino, Agapito cresceu entre seu mundo imaginário, onde reinava absoluta e sozinha, como a filha única de um rei que perderá sua esposa no parto e secretamente nutria um amor por seu fiel e leal cavaleiro. Crescerá ali nos pique niques da côrte cercado de mimos e caprichos e protegido por seu “padrinho”; o escudeiro do seu pai, o rei, que sempre dormia no castelo.

Vez ou outra entre as algazarras de outras crianças que chamavam-no de mulherzinha, ou de “Agapito sem pinto”, sentia-se deveras incomodado. A adolescência também não foi nada fácil, apaixonou-se por uma bela garota que nunca deu-lhe bola e depois por uma mais feinha, mas que era evangélica protestante e só namorava servos de Deus, converteu-se ao protestantismo e se batizou na Igreja Evangélica do Evangelho dos Servos Obedientes a IEESO, começou a namorar mais ainda assim sentia-se diferente, não gostava por exemplo das saias que a Angélica, sua namorada em Cristo usava, achava démodé.

Passada a juventude e não estando mais congregando na IEESO, ainda se deparava com situações que causavam-lhe estranhamento, como o futebol por exemplo: Aqueles homens todos de shorts curtíssimos correndo atrás de uma bola, chocando-se uns nos outros...aquilo tudo era muito estranho e chato, gostava mesmo de folhear revistas, comer salada e ficar conversando com seu gato, o Sr Yves Saint Lorraint.

Os anos se passaram, a vida seguiu seu curso natural e as coisas tomaram o lugar que lhes era de direito... Agapito hoje mora sozinho, gosta de boa musica, comidas leves, malha 7 dias por semana, faz crossfit e odeia rótulos. Seus pais o visitam muito pouco, pois, preferem evitar o contato direto com o Alex, o amigo do Agapito que quase não sai da casa dele e que tem um comportamento estranho toda vez que ouve uma musica da Beyoncé.

Mathos
Enviado por Mathos em 27/03/2017
Reeditado em 12/04/2018
Código do texto: T5953554
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