Como estamos cansados

Estamos tão cansados.

Ah, como o mundo está cansado! Cansado das noites em claro, dos amores inacabados, das palavras não ditas (ou ditas), dos dias longos, do arrependimento dos que não viveram ou dos que viveram demais. Das infâncias tristes, das juventudes perdidas, das angústias e feridas, do mau da vida, da solidão, da multidão.

Ah, como o mundo está cansado! E como estamos cansados do mundo! Cansados, arredios, sozinhos. Cada um em seu universo, descobrindo "eus" perversos que, de tão perdidos, encontram-se escondidos. E nesse caminho tortuoso, em busca de fé e gosto, perguntamo-nos por onde anda a poesia, a magia da vida, a força que nos move a cada dia, que nos envolve e nos guia, ainda que não saibamos nossas próprias rimas. Por onde anda a calma? Sinto que a perdi, em alguma esquina bem longe daqui. Roubaram-me o sono e prenderam-me em mim, acordada, tendo que suportar cada minuto sem fim. Perdi amigos: hoje mesmo um detalhe destruiu o edifício inteiro! Procuro o sono, desconfiada de que há mais na vida quando não se está acordada.

Cansados, buscamos algo que nos encante, que nos levante, que retire essa dor singela de se sentir insignificante, de ver-se errante. Por isso, enquanto a madrugada envelhece e o mundo adormece, escrevo algo como poesia ou prosa. Enquanto o mundo dorme, invoco o fascínio da escrita e o sentimento da noite, na tentativa, quase sempre falha, de pegar no sono e ver-me no dia seguinte. Sem mágoas, sem nada, é só um novo dia ou, quem sabe, uma vida: que se inicia