CADELAS QUE AMAM DEMAIS

Quando eu era bem jovem, fazia muito sucesso um livrinho do escritor e aviador francês, Antoine de Saint-Exupéry, escrito em 1943: Le Petit Prince, ou “O Pequeno Príncipe”, que também se notabilizou por estas bandas como livro de cabeceira das misses. Quando, nos concursos de miss disto ou daquilo, perguntavam à guria qual o livro preferido ou que estava lendo, não dava outra, era sempre O Pequeno Príncipe, que eu li quando tinha 13 ou 14 anos. Quero ressaltar que o livro é bonito e tem alguns pensamentos preciosos. Este introito é para assinalar uma de suas mais importantes passagens, basicamente nestes termos: “Eu não preciso de ti. Tu não precisas de mim. Mas, se tu me cativares, e se eu te cativar... Ambos precisaremos, um do outro. A gente só conhece bem as coisas que cativou. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas!”

Realmente, é uma ideia forte e vai servir, talvez, de explicação para o que vou relatar a seguir. Há pouco mais de dois anos, resgatamos de Torres, onde vivia no pátio da casa de meu falecido sogro, de propriedade de sua secretária, uma cadelinha Poodle praticamente cega (catarata), com a pelagem detonada, os ouvidos infeccionados, que já houvera caído no Rio Mampituba, que passa bem na frente da propriedade. Sobreviveu, apesar de só encontrada bem distante, alguns dias depois do infortúnio. Tive algumas dúvidas em assumi-la, afinal, já temos conosco seu “marido” e um sobrevivente filho dela. Tudo é muito bonito, mas não é barato, não. Mas, de repente, minha mulher apareceu aqui em casa com Baby e pronto, ajoelhou, tem de rezar. Bem, conheço naturalmente o significado do ardor da paixão. Agora, “paixão”, apego, dependência como a Baby tem por mim, eu nunca vi e nem imaginava possível. Afinal, quando a conheci, ela já tinha mais de sete anos. Se vou ao banheiro, ela fica o tempo inteiro à porta. Se me levanto da cadeira, onde ela está no meu colo ou ao lado, para apanhar um copo d’água, fica latindo, me chamando. Quando saio, me espera horas e horas à porta. Por um certo prisma, é um pouco sufocante, mas como posso ignorar ou ficar insensível perante tanto apego e devoção? Lição de Saint-Exupéry, minha gente: “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.