O binômio da felicidade

No ano de 1990 começou a minha jornada em uma profissão que já foi considerada, em um passado não muito distante, um grande sonho de consumo, especialmente devido ao seu reconhecimento e prestígio por grande parte da sociedade dita civilizada. Trata-se da profissão de professor. Mas os tempos mudaram... Hoje, a escola é o palco de verdadeiros "shows de horrores". Aquela atmosfera sacerdotal deixou há muito tempo de existir. Resumindo, a profissão de professor, principalmente aqui na "terra da Lava Jato", está na lista das 10 mais estressantes.

Pois bem, durante uma avaliação médica realizada na escola, tive uma surpresa. A mensuração da minha pressão arterial acusou a marca de 180 x 100 m m de Hg. O médico, sem constrangimento, disse-me: "O senhor precisa urgentemente fazer um check-up cardiológico, enquanto ainda está vivo, não demore". Imediatamente, contatei o meu convênio e marquei uma consulta. Fiz toda aquela parafernália de exames. Chegou o dia do diagnóstico. O cardiologista me disse: "Todos os seus exames estão dentro da normalidade, o seu quadro de hipertensão é pontual e de natureza emocional, provavelmente, o senhor deve estar muito estressado. Eu recomendaria que o senhor procurasse um psiquiatra". Demorou pra cair a ficha, mas pensei comigo mesmo: É hora de pedir ajuda... Tive coragem e marquei a consulta. Após a avaliação, o médico me receitou o de praxe: ansiolítico e antidepressivo, o "binômio da felicidade".

No terceiro dia de tratamento, notei que alguma coisa estava diferente. Parecia um filme em “ slow motion”, tudo demasiadamente lento, pouco vibrante, sem sal e açúcar, sem vida. Eu já não era mais o mesmo professor aguerrido, com personalidade forte. Eu havia me transformado em um verdadeiro morto-vivo, um "zumbi". No dia seguinte, a caixa de ansiolítico, praticamente cheia, estava na lata do lixo. Continuei o meu tratamento usando apenas o antidepressivo. De repente, sem mais nem menos, comecei a notar, durante os meus encontros sexuais, uma certa dificuldade para chegar às vias de fato, usando o bom português, “gozar”. A coisa tomou uma dimensão tal que se transformou em uma verdadeira "missão impossível". No dia seguinte, a caixa de antidepressivo, praticamente cheia, estava na lata do lixo. Voltamos à estaca zero! Eu estava novamente em uma verdadeira selva, órfão de pai e mãe! Pensei? Eu não quero morrer! Quero viver! Vou ter que subtrair... No dia seguinte, o emprego de professor, do período da manhã, estava na lata do lixo.

Afinal de contas, o que é estresse? De acordo com o dicionário Aurélio, estresse é” o conjunto de reações do organismo a agressões de ordem física, psíquica, infecciosa, e outras capazes de perturbar a homeostase”. O médico Hans Selye, considerado o pai do conceito revolucionário de stresse, num congresso realizado em Munique, em 1988, fez a seguinte colocação:” O estresse é o resultado de o homem criar uma civilização, que, ele, o próprio homem não mais consegue suportar”. Percebeu o tamanho da encrenca do animal que se autointitula de racional?

O estresse é um mecanismo de defesa fundamental para a sobrevivência dos seres vivos. Acontece que no habitat selvagem, ele é pontual, ou seja, ele é acionado para atender uma demanda específica. A partir do momento que essa demanda deixa de existir, esse mecanismo também, imediatamente, volta para o seu ritmo natural. Já o humano, pelo fato de ser racional e superestimar o agente agressor, bombardeia o seu corpo com hormônios do estresse . Quando esse mecanismo se torna crônico e repetitivo, altera a resposta imunológica e favorece o aparecimento de uma série de disfunções que comprometem de maneira importante a sua qualidade de vida. Eis a fórmula da infelicidade humana!

Se você está prestes a ter um ataque de nervos, não coloque a culpa em Deus. A culpa não é do outro! Você não precisa achar os culpados pelos seus infortúnios? Você é senhor das suas ações! Mude primeiro o que for possível. Mude as prioridades, as expectativas, o ritmo, o problema, a rotina, o foco. Enfim, mude você! Não tenha medo do desconhecido, das novidades, das incertezas. Talvez seja exatamente isso que você esteja precisando para voltar a ter gosto pela vida.