Fala, Juca!

Não pense que vai encontrar o Juca em sua casa, ali na antiga Rua Nova, já há muito oficialmente denominada Monsenhor Arthur. Mas pra nós, com todo respeito ao religioso, segue sendo a velha Rua Nova, com convicção e prova. E é a única de Pitangui que, cortando a cidade, é reta de ponta a ponta.

Mas, afinal, que é do Juca de Freitas, filho saudoso marceneiro Zé Martinho? Tá lá sim, só que encafuado na sua oficina na mexida insofrida de cada dia. Seu ofício original é de pedreiro, mas hoje, com as pás em paz

e a desempenadeira pendurada à parede, ele está é na sua oficina multi-uso, no quintal.

Entre muitas atividades de manejo de ferramentas, Juca completa obras do mano Jonba, o João Batista de Freitas, também precursor, pluri-artesão, falecido há cerca de ano e meio. O trabalho mais recente da dupla é uma miniatura da já há muito extinta, mas não menos recordada, Venda do Tisnado. Esse estabelecimento, por décadas a fio e a pavio, marcou época na cidade: era sinônimo da balbúrdia organizada. Só na cabeça de seus donos, Tisnado e seu irmão Dodô, que conheciam todo o estoque de (f)utilidades domésticas, mas por vezes até evitavam adentrar o o amontoado interno, dizendo ao potencial freguês que lá passasse outro dia...Pressa, ora essa, não havia.

Pois os manos João e Juca fizeram tudinho que alcança a imaginação, numa coleção de miniaturas que val além da perfeição. O quê dizer, por exemplo, daquelas faquinhas de cabo de chifre, de dois centímetros de lâmina, e amoladinhas até? Bota fé, Mané. Isso é arte, em qualquer parte.

O empreendimento atual do Juca - não confundir com o suruboso Jucá -

é, acentuadamente, um primor, e já quasemente concluído é uma Tenda de Ferreiro. Fole, bigorna, tenazes, morsa, marretas, cravos, torqueses em

escalas variadas estão lá, quase invisíveis de pequenininhos para lhe encher os olhos. E até provas da produtividade já se exibem em formas de ferradurinhas, a que não faltam nem os buraquinhos para os cravos...

Isso, gente, é artesanato digno de ser exibido, difundido, e reconhecido como patrimônio de nossa Velha Serrana. Num tempo de inundação de legos, barbies e he-mans, temos, enfim, algo genuíno, para provar que mesmo pelo prisma da memória, Pitangui continua fazendo história.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 18/03/2017
Código do texto: T5944726
Classificação de conteúdo: seguro