Da Estrada ao Coração
Sol ardia. Pés calejados, a pele mistura suor e poeira, e a secura da garganta, arranhada pela perdição dos sonhos. Às vezes as pernas bambeavam, os passos entortavam, o corpo cambaleava. A testa rachava, e os raios solares penetravam, queimando os pensamentos. À essa altura, já não consigo me lembrar de ser, a única preocupação é caminhar.
Ao longe avisto um vulto, um homem não tão alto, coberto de tons terrosos, sendo um com a estrada. Na única sombra que encontro em tantos quilômetros, é ele quem me acolhe. De fala e olhar tranquilos, não esconde aquilo que de mais sincero se guarda em uma alma. Dá-me de beber, me lava os pés, o rosto, a história. E nos entretemos, e nos enfrentamos. Depois de tempo, reconstruído, prossigo pelas sendas da incerteza e da beleza, da secura e da fecundidade.
Seu nome: Francisco e, sinceramente, não me recordo quando nossas humanidades se confundiram... é, não há pessoa que lhe cruze o olhar e continue seguindo sem ter em si um novo humano emergindo.
* Em gratidão por ser filho de S. Francisco, de Assis e do Mundo Inteiro.
Tiago Gonçalves - OUT/2016