CULTIVAR A VIDA PARA COLHER A MORTE

Havia um tempo em que a morte , pra mim, não era uma preocupação real...

Eu a encarava como circunstancial, acontecimento inerente ao ser humano

Nascer, viver morrer...

Eu acreditava que se uma pessoa procurasse agir com justiça e fosse fiel à sua essência, poderia morrer tranquila... Tanto faz se descansasse no sono eterno ou reencarnasse ou virasse um eterno anjo...

Aí, vivenciei duas experiências que eram como um convite para a morte...

Apesar de tudo, difícil morrer... Sempre há um anjo bom que nos trilha de volta...

Nas duas vezes, eu ouvia uma voz doce e carinhosa que dizia: Respira... Você precisa respirar... Calma... Respira fundo... E me ensinava como respirar...

O corpo saiu daquela moleza e cá estou eu, com a convicção de que morrer não é tão fácil assim...

Além disso, eu acreditava que morrer seria a quietude, o descanso final...

E eis que caíram nas minhas mãos alguns filmes que me fizeram repensar o que é morrer...

O primeiro deles era um filme na linha budista, que retratava os ciclos da vida como estações do ano... “Primavera, Verão, Outono, Inverno e Primavera”... Aliás, era esse o nome do filme... Mais do que a morte física, tratava-se da morte de situações, coisas que nascem e morrem dentro da gente e que se renovam... Situações cíclicas que dependem mais dos atos dos seres humanos do que de fatalidades... Herança de costumes e de crenças que interferem na continuidade cíclica da vida, onde sempre estamos errando e aprendendo...

O outro filme interessante foi: “As Cinco Pessoas Que Você Encontra No Céu”... Me fez pensar que levamos muitas mágoas na vida, culpamos terceiros por nossa infelicidade, e apesar de sermos comunitariamente bons, há coisas que fazemos por obrigação moral e não por simples voluntariedade genuína ... Assisti também “Nos Tempos Em Que Eu Vivia”... Aliás, chorei litros... O personagem tinha uma índole muito boa e quando teve que escolher entre morrer ou viver, optou pela vida apenas para fazer felizes as pessoas que o queriam por perto, mesmo sabendo que ele seria praticamente dependente de tudo... Só lhe restou o pensamento ...

Por fim, assisti: “Um Olhar Do Paraíso” e o que me chamou a atenção foi o quanto o sentimento da raiva e do ressentimento atrasam o nosso caminhar...

Nos filmes, as pessoas eram apegadas às suas dores, a suas mágoas, rancores, aos seus amores, às situações não resolvidas e isso as impediam de prosseguir para o descanso eterno.

Enfim, não contei detalhes dos filmes para não dar spoilers... Apenas relato os sentimentos, em mim, despertados...

Pois bem... Juntando tudo isso, meu pensamento atual sobre o ato de morrer, simplesmente deu tilt...

Fez-me pensar que essas pessoas que, mesmo padecendo de muito sofrimento, têm uma sobrevida longa; elas o fazem, nem tanto na esperança de voltarem a ter uma vida normal...Essas pessoas o fazem para aplacar o sofrimento das pessoas que ficariam sem rumo na sua ausência...

Outra constatação é que nem doenças e nem ciclos de vida familiares estão relacionados exclusivamente à hereditariedade... Tudo depende da nossa índole e de como conseguimos mudar nossos hábitos e o modo como enxergamos a vida. As situações podem se repetir, porém não se faz mister que a ação sobre elas se repitam... Cada um define o seu próprio ciclo de vida...

E por fim... É preciso treinar o desapego...

Não será possível trilhar nossos merecidos caminhos se nos apegamos a mágoas passadas, se deixamos a raiva nos dominar, ou se deixamos de realizar nossos planos para ajudar no sucesso dos outros...

A conclusão que tiro de tudo isso é que morrer é tão complicado ou mais do que viver...

Saber cultivar a vida é também, plantar sementes para uma boa colheita da morte...

sukie hikari
Enviado por sukie hikari em 23/02/2017
Código do texto: T5921881
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