O TEMPO: CÁRCERE PÓSTUMO

O tempo que outrora belo e que, colorido e singelo se desenrolava na adolescência, fazia-me poeta da vida, que sofrida era, porém com olhos no além, aspirava que a vida fosse mesmo bela.

O vento soprava no verde que por sua vez assobiava de fato como que em agradecimento pelo frescor recebido.

Ficava na espreita, aguardando sob qualquer suspeita, um beijo da lua que se curvava nua todas as noites para eu recebê-la.

Pensava, porém que o tempo não passava que a lua não passava que a vida não passava. Havia uma estrada com curvas sinuosas, esburacadas, circulares e ruidosas, e uma só via na qual se podia confiar, ou melhor, era a única via: o próprio caminhar.

Havia também uma esperança e uma só coisa a aceitar: o próprio tempo...

(15/07/1987)

Ricardo Brown
Enviado por Ricardo Brown em 20/02/2017
Reeditado em 20/02/2017
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