Dalva de Oliveira
                    100 anos



          1. Dalva está entre minhas cantoras prediletas. Ainda seminarista franciscano, idos de 1952, me apaixonei por uma de suas canções.  Entre um bendito e outro, cantarolava, baixinho, Estrela do Mar, com saudade de um alguém... Esse alguém, nunca lhe declinei o nome. E não o farei agora, depois de tantos carnavais, idos e vividos.
          2. Estrela do Mar - "Um pequenino grão de areia/Que era um pobre sonhador/ Olhando o céu viu uma estrela/ E imaginou coisa de amor == Passaram anos, muitos anos/ Ela no céu e ele no mar/ Dizem que nunca o pobrezinho/ pôde com ela encontrar == Se houve ou se não houve/ Algumas coisa entre eles dois/ Ninguém, soube até hoje explicar/ O que há de verdade/ É que depois, muito depois/ Apareceu a estrela do mar."
          3. Dalva de Oliveira atingiu seu apogeu nos anos 1930, 1940,1950. Embora dona de uma bela voz, chegou ao sucesso com a ajuda do talentoso compositor e letrista Herivelto Martins. Dele, Dalva cantou, por exemplo, Ave-Maria no morro, Rancho da Praça Onze e Segredo.
          
4. Dalva, disse Pery Ribeiro, seu filho, tornou-se "a mulher-inspiração" da vida de Herivelto.  Que ela fora "a companheira de uma época brilhante" de Herivelto; do "seu momento mais fértil"; "quando a sua melhor obra aconteceu para o mundo"...
          5. Mas Dalva de Oliveira não foi feliz no seu casamento com Herivelto.  No livro A Noite de Meu Bem - a história e as histórias do samba-canção, seu autor, o escritor Ruy Castro, diz que "eles travavam uma guerra conjugal marcada por ciúmes, bate-bocas e cenas de fúria quase inacreditáveis".
          6. A Rouxinol do Brasil teve outros amores, após o rompimento do seu casamento. Mas, em verdade, era de Herivelto que Dalva gostava.  
          7. Não estou aqui para comentar as desavenças amorosas que arruinaram o casamento de Dalva com Herivelto. A história é longa e dorida.
          8. Aqui compareço para homenagear a cantora Dalva de Oliveira, no ano do seu centenário.  Que a imprensa brasileira, tão diligente em promover péssimos compositores e cantores e cantoras não menos ruins, dê destaque aos cem anos de nascimento da maravilhosa Dalva.
          9. Farto material está à disposição dos jornalistas, lembrando que a vida da extraordinária intérprete de Sertão de Jequié, Kalu, Que será, é contada, com carinho e sinceridade, pelo cantor Pery Ribeiro (1937-2012) no seu livro Minhas Duas Estrelas, seu pai, Herivelto, e Dalva, sua mãe.
          10. Como estamos em tempos de folia momina, para homenagear a Rouxinol, fui buscar, nos arquivos que guardam minhas saudades, a marcha rancho Bandeira branca, que Dalva cantou, arrasando, no carnaval de 1970, e como essa marchinha chegou até ela.
          11. Conta Pery no seu livro: "Ainda internada, ela recebeu a visita de Max Nunes e Laércio Alves, que a convidaram para interpretar uma música deles num festival de Carnaval.
          Encantada com o desafio, ela aceitou, pedindo um tempinho para se fortalecer. Ao deixar o hospital, foi direto para o estúdio da Odeon gravar Bandeira branca".
          12. Para a geração mais nova e para mexer com os coroas: "Bandeira branca, amor/ Não posso mais/ Pela saudade que me invade/Eu peço paz == Saudade mal de amor, de amor/ Saudade dor que dói demais/ Vem, meu amor/ Bandeira branca/ Eu peço paz."
          13. Dalva de Oliveira nasceu no dia 5 de maio de l917, em Rio Claro, a 175 km da capital paulista. Filha de Mário de Paula Oliveira e Alice do Espírito Santo Oliveira.           Na pia batismal, recebeu o nome de Vicentina de Paula Oliveira. Teve dois filhos com Herivelto: Pery e Bily. Morreu (câncer) na tarde de 30 de agosto de 1972, aos 55 anos.
          14. David Nasser (1917-1980), da poderosa revista O Cruzeiro, jornalista sem escrúpulo e temido, parceiro de Herivelto em famosas canções (A camisola do dia, Hoje quem paga sou eu, Carlos Gardel, Atiraste uma pedra, Pensando em ti), foi um algoz terrível e implacável de Dalva, machucou a cantora em longos e mentirosos artigos.
          15. Mas, na morte de Dalva, certamente arrependido, Nasser escreveu, com todas as tintas: "Viveu sem ódio, morreu em paz". Fez justiça, falando a verdade. 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 13/02/2017
Reeditado em 16/11/2019
Código do texto: T5911553
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