ESPAÇO

Vivi muito tempo de minha vida morando num espaço pequeno para duas pessoas. E como juntamos tralhas nos cantos fazendo de um espaço mínimo um deposito de tudo que nem precisamos. Nossa! Quanto tempo amontoados querendo guardar o que na verdade jamais usaremos. Claro que algumas coisas se salvam, mas são pouquíssimas.

E quando chega uma visita e tu louca de vergonha tentando arrumar um espaço para que ela possa sentar. E é um tal de esconde aqui e ali, roupas, se tiver crianças os brinquedos até algo que estavas fazendo no momento. E a visita com cara de “eu entendo” ou aquelas metidas com ares de riso. “Coitada morando nessa casinha, pobre bicho!”

Quando finalmente me vi livre do “aperta muito” conheci outra pessoa a que habitava meu corpo. Na verdade sempre soube da sua existência, apenas não havia "espaço" para libertá-la. A virginiana chata perfeccionista arrumadinha toda trabalhada nos detalhes. Apareceu. O piso sempre encerrado de um jeito que a próxima passada tem que esperar uns vinte dias. Assim os donos não se estabacam no chão a toda hora. Tudo no seu devido lugar e quando algo esta fora fica até bem esquisito, parece que não combina. Se alguém diz “vou a tua casa” ainda corro para arrumar e descubro que esta tudo tão arrumadinha parecendo vitrine de loja.

Espaço! Como gosto disso ter lugar para guardar as tralhas e ainda assim ficar bonito e ajeitado. Estante sem pó se tem a perfeccionista enxerga e vai limpar. Não tem coisas a mais nela somente aquilo que faz parte de uma estante.

Os cantos limpos de entulhos só um enfeitinho para adornar a clareza do ambiente. O corredor com um brilho que a limpeza deixou, as paredes brancas tão claras com um enfeite que só a deixa mais glamorosa .

Sabe aquela vontade de ficar só admirando as artes que antes eu fazia e não tinha onde colocar. Então amontoava num canto até estragar, sabe aquele prazer de voltar para casa e ficar olhando tudo com o maior orgulho de ter este espaço só para mim. Essa é a minha casa...